Aproveitamos o feriado da consciência negra (20 de novembro) de 2025 para refletir sobre o quanto o racismo ainda atrapalha uma vida de qualidade para todos em nosso país. E, infelizmente, é fácil concluir que o racismo ainda é um grande problema social, e que por isso, não basta se dizer “não racista” é imprescindível que sejamos todos antirracistas em todos os ambientes que a gente vive: escola, trabalho, amigos e futebol. Só pra reforçar o tema, vale assistir o vídeo do Eduardo Bueno que relembra quem foi e o que simboliza Zumbi dos Palmares e a data de 20 de novembro.
Também aproveitamos o feriado para pegar a estrada. Fomos até Ribeirão Preto!
Devido à sua ascensão como grande centro produtor de café no final do século XIX, houve extensivo uso de mão de obra escravizada, e mesmo com a abolição, muitas lavouras da região ofereceram resistência ao fim da escravidão. Encontrei alguns levantamentos quantitativos realizados por Luciana Suarez que destaca a população da cidade em 1874 como: 4.695 livres e 857 cativos. Dados de 1887 mostram que a população livre somava 9.041 e a escravizada 1.379. Por isso, é importante entender a realidade dos dias de hoje com base nessa história recente, porque se você acha que isso é coisa do passado, leia esta notícia de 2022 sobre idosa que era mantida em condições análogas à escravidão.
Nosso principal objetivo na cidade era registrar o Estádio Palma Travassos, o único das 5 divisões do Estado de São Paulo de 2025 que a gente ainda não conhecia.
E, felizmente, deu tudo certo! Da bilheteria até a parte interna do Estádio, conseguimos passar uma boa tarde vivenciando o Palma Travassos!
Faltou apenas ver a loja “Garra do leão” e aproveitar algum desconto, mas como diz um grande economista, melhor do que um desconto é não gastar.
Gostaria de agradecer todo o pessoal do estádio e da assessoria de imprensa que possibilitaram a visita e nos deixaram super a vontade para registrar cada detalhe.
Na parte interna ainda, existe uma série de itens históricos, como esta camisa linda:
Aliás, já escrevemos sobre a camisa e história do Comercial, veja aqui. Faltava mesmo o registro do Estádio e antes de adentrá-lo dei uma boa volta em seu entorno e muito interessante ver que existe uma vida própria ali com bares e restaurantes.
Voltando a falar sobre os objetos históricos dispostos ali internamente, vale citar os troféus, os quadros com os presidentes e fotos históricas, muito bonitas, como a do antigo estádio!
Mas,já era hora de, finalmente, entrarmos ao campo, vamos lá?
Como mostrei no vídeo, achei legal também esses painéis homenageando figuras importantes da história do Comercial FC.
É mesmo um estádio muito bonito, e sem dúvidas que estar ali em dia de jogo é uma experiência que ainda quero passar!
Olha que linda a parte coberta da arquibancada:
E aí está o distintivo gigante no próprio campo:
No dia da visita, estavam acontecendo melhorias no estádio e no campo, mas nada que atrapalhasse o nosso registro.
A arquibancada possui cadeiras um pouco diferentes das atuais tradicionais:
Uma honra estar em um estádio com tanta história e uma torcida tão apaixonada…
Olha o placar que bacana:
Aqui, um olhar no lado direito do campo:
O meio campo:
E o gol do lado esquerdo:
Enfim, foi muito emocionante poder caminhar ali pela parte de baixo, bem ao lado do gramado e imaginar quanta coisa já passou por aí.
Esses são os meus sonhos de criança… Estar em cada um dos estádios que povoaram minha imaginação ou mesmo o acompanhamento dos campeonatos nestes 48 anos de vida… Só tenho que agradecer a oportunidade…
A gente cresce sem questionar muito se as coisas que nos cercam vão estar ali pra sempre. A rua, o bairro, as árvores da calçada, as casas e comércios que viram pontos de referência geográfica e também no nosso mapa sentimental. De repente, você percebe: “Opa… Algo mudou”. E sim, tudo muda, sem avisar, nem pedir licença. Assim aconteceu com a “casa nº 729”.
Em 1984, nossa família se mudou para a casa ao lado, fazendo com que ela acompanhasse a infância de todos nós, meus irmãos e eu. Mas naqueles primeiros anos ela não tinha nada de romântica para nós. Pelo contrário. Era um pequeno pesadelo infantil, um buraco negro onde desapareciam as nossas bolas. Um chute mais forte, ou um rebote do goleiro e a bola ia vagarosamente ultrapassando o muro e sumindo rumo à casa vizinha. Aí era aquela discussão pra saber quem iria pedir a bola de volta. Antes, uma olhadela por cima do muro pra ver onde a bola estava, pra confirmar a regra: a bola sempre caía no meio da horta do quintal vizinho. Campainha tocada, e lá vinha o filho da vizinha, já adulto, nos atender. “O senhor pode por favor, pegar a bola que caiu lá na horta”. Ele voltava pra dentro de casa e após alguns minutos a mesma resposta de sempre: “Não tem nenhuma bola lá”. Não conseguíamos entender e passávamos o dia inventando teorias sobre o destino das bolas perdidas, sempre com mais drama do que razão.
O tempo, no entanto, tem sua maneira silenciosa de ajeitar as coisas. Fomos aprendendo a jogar na outra metade do quintal, onde uma rede impedia a bola de cair no vizinho do outro lado. Também vimos as broncas e as pequenas injustiças da infância se transformarem em coisas pequenas, quase engraçadas. No fim, o que sobrou foi o vínculo. O bairro amansou a gente. Crescemos, conversamos mais, cruzamos histórias. A senhora vizinha, uma romena de poucas palavras, foi ficando mais velhinha. Lembro dela andando com dificuldade indo até a padaria ou açougue que ficavam no nosso quarteirão. Acho que foi numa dessas idas e vindas que alguém de casa comemorou um “Bom dia” trocado com ela. Temos depois, acabaríamos conhecendo o Banitsa romeno! E foi assim, aos poucos, que aquelas fronteiras invisíveis entre uma casa e outra foram se dissolvendo. O que antes era o medo de perder a bola virou convivência. Depois amizade. Até se tornar uma nova realidade.
Mas, o tempo é implacável. E tudo continuou mudando. Depois de um tempo acamada, a vizinha romena se foi. Sua filha também. Ficou apenas o filho, que agora já frequentava nossa casa como amigo. Ele se tornou o último guardião da casa número 729. E assim novas experiências e vivências consolidaram mais uma realidade diferente a cada nascer do sol.
Chegamos, enfim, em 2025 e o tempo, como era pra termos aprendido, continuou a passar. E com ele, mais transformações. O guardião da 729 decidiu ir para Suzano. Fez os planos, depois, as malas e num fim de semana, lá estava o caminhão levando tudo embora.
Não houve uma despedida porque até hoje, ele aparece pelo bairro pra nos visitar, mas a casa… Essa sim se despediu. Semanas depois da mudança, foi posta abaixo. Ruiu rápido, como se estivesse esperando apenas um sinal. Não houve tragédia, nem drama. Só um silêncio diferente. Aquela demolição não derrubou só paredes: derrubou um pedaço da paisagem que moldou quem fomos um dia. Vão construir uma loja em seu lugar.
O bairro virando um centro de lojas e as relações se tornando negócios. Sem bolas na horta. Assim como os clubes de futebol se transformam em empresas, o jogo e a vida vão sempre se reinventando, e cabe a nós manter viva a magia da vida.
O tempo vai passar e quando menos me der conta volto aqui pra fazer um acréscimo nesse texto e dizer “Puxa, já estamos em 2035, 10 anos sem aquela casa, olha como está o bairro hoje…” E sei que a vida vai seguir sendo legal. Mas por hoje, permita-me um momento de tristeza e saudosismo ao olhar e ver que a casa nº 729 já não está mais lá. O bairro também não é mais o mesmo. Talvez nenhum de nós seja.
É… Tudo muda. Tudo segue se transformando com o tempo. Tem coisas tradicionais que deixam de existir e também coisas novas que nascem. Em 2012, estivemos por Porto Ferreira para conhecer e registrar o Estádio Municipal da Vila Famosa (veja aqui como foi), também chamado de Vila Formosa.
Na época, o Estádio era a casa da Sociedade Esportiva Palmeirinha, um time que atuava na série B do Campeonato Paulista.
Em 2016, o time disputa seu último Campeonato Paulista pela série B, e no ano seguinte, voltamos a passar pelo estádio, para uma nova visita (veja aqui como foi).
Em 2023, chegou a notícia que o Estádio fora abandonado e estaria prestes a ser demolido. Torcendo para ser apenas um boato, no feriado da consciência negra de 2025 passei por Porto Ferreira e, para a tristeza de todo apaixonado por futebol, confirmei a notícia…
Me pergunto se pra quem mora na cidade realmente fez sentido essa demolição para se ter um…. “nada” no lugar… Ok, provavelmente algo será construído nos próximos meses ou anos, mas ainda assim, dói ver essa imagem, não?
A cidade é referência na produção e comércio de cerâmicas, e não é difícil pensar que algo nesse sentido pode tomar esse espaço, ou quem sabe um novo espaço para o esporte municipal?
E pensar que, assim como as cerâmicas, o time fez parte do dia-a-dia da cidade por tantos anos…
Olha que linda a foto do Marcier Martins quando goleiro do time (do acervo Marcier Martins):
É um time com muita história…
E com uma torcida bastante apaixonada!
No início da carreira, o goleiro Aranha teve uma passagem no gol do Palmeirinha!
E o que dizer de 1967, quando o time sagrou-se campeão da terceira divisão.
Muitos fizeram história com essa camisa…
Assim, com a demolição do Estádio e o fim do Palmeirinha, a cidade parecia fadada a não ter mais um time de futebol nas competições da Federação Paulista. Mas, no dia 26 de abril de 2022, uma família da cidade decidiu criar o Porto Foot Ball Ltda, o primeiro clube-empresa de Porto Ferreira.
Se você quer saber um pouco mais sobre o time, batemos um papo com o presidente do clube, confira:
O time nasce com a missão de juntar a cidade, e por isso soma o preto e branco do antigo Porto Ferreira FC e o verde do Palmeirinha, além disso, passou a mandar seus jogos no tradicional Estádio Ferreirão…
E é aqui que o futuro se une ao passado já que o Estádio Ferreirão foi a casa do Porto Ferreira FC, primeiro time da cidade a participar de competições da Federação Paulista, fundado em 1912.
Em 1916, seu primeiro campo (1 no mapa abaixo) deu lugar ao Jardim Público que é a atual praça Cornélio Procópio, obrigando-o a se mudar para onde hoje está o Hospital Dona Balbina (2 no mapa abaixo), de lá, mudou-se em 1923 para a área onde hoje está o clube social (3 no mapa abaixo) e permaneceu por lá até 1968, quando finalmente mudou para a atual área do Estádio (4 no mapa abaixo).
Em 1925, disputou dois amistosos com o Clube Atlético Paulistano, recém-chegado de excursão pela Europa, vencendo ambas (3×0 e 2×0). Em 1926, o Clube Atlético Paulistano novamente visita Porto Ferreira e dessa vez apenas uma partida: um empate em 0x0. Nesse mesmo ano, o Porto Ferreira FC filiou-se na Liga dos amadores de Futebol e segundo o livro “Os esquecidos”, estreia no Campeonato do Interior na Região C.
No ano seguinte disputa a Zona da Paulista:
Em 1952, foi Campeão amador do setor 9.
E se mostramos lá em cima um desfile com a bandeira do Palmeirinha, o Porto Ferreira FC também teve seu momento…
O alvinegro de Porto Ferreira foi o primeiro time a conquistar o coração da população…
E que demais esse uniforme, hein?
Dessa forma, fomos conhecer o Estádio Ferreirão, que teve sua inauguração oficial em 25 de julho de 1982, como indica a placa abaixo:
Então, venha conosco para um rolê por este verdadeiro elo entre o passado e o futuro!
Olha que bem estruturado é o estádio em se falando de arquibancada. Temos estes degraus em torno da lateral de entrada e também atrás do gol esquerdo:
Sempre gosto de comparar com outros times que estão disputando a série B do Campeonato Paulista para pensar se um estádio teria condições de abrigar o futebol profissional novamente, e no caso do Ferreirão, acredito que com algumas poucas melhorias teríamos condições de ver o Porto Foot Ball alçando voos mais altos!
Além das atuais arquibancadas, existe espaço do outro lado do campo para eventuais novas estruturas, como se vê nesta foto do meio campo!
Ali ao lado direito, também temos parte da arquibancada quase até o gol.
Aqui, o já supra citado gol do lado esquerdo.
Uma pena só ter o registro do time que este ano foi finalista da Série B do Campeonato Paulista Sub 20 no Estádio de Paulínia.
Ainda estamos devendo acompanhar um jogo por aqui… Era pra gente ter vindo na final, vencida pelo Paulinense, mas ano que vem teremos o time na Série A do sub 20 e quem sabe podemos enfim registrar um jogo.
Com tantos roles pelo interior, as vezes sinto que registro pouco o futebol da capital, que, sem dúvida, tem uma história única no futebol brasileiro. Assim, aproveitei um deslocamento pela cidade para registrar o Estádio e um pouco da centenária história do União dos Operários FC.
O União dos Operários FC foi inaugurado em 1º de maio de 1917, uma data cheia de significados para a cidade de São Paulo. Pra entender o “caldo cultural” da sua fundação, precisamos voltar ao fim do século XIX, quando São Paulo passa a se industrializar e a receber milhares de operários vindos especialmente da Itália, Espanha e Portugal. A foto abaixo registra a hospedaria dos imigrantes da época e onde funciona atualmente o Museu da Imigração / Memorial do Imigrante:
Muitos deles trouxeram consigo uma formação anarquista, com influência de pensadores como Bakunin, Kropotkin e Malatesta, que defendiam conceitos como a autogestão dos trabalhadores, ação direta (greves, boicotes, ocupações) como forma legítima de luta e a solidariedade de classe, sem depender de partidos políticos ou do Estado.
Tradicionalmente, no feriado de 1º de maio, sindicatos e associações operárias organizavam atos e comícios em São Paulo para reivindicar melhores condições de trabalho. Com a Primeira Guerra, houve um o aumento do custo de vida e do número de pessoas passando fome pelas periferias da capital, fazendo com que a manifestação de 1º de maio de 1917 não fosse apenas uma comemoração, mas um verdadeiro ato político, organizado em boa parte pelos sindicatos libertários e pelos grupos autônomos de trabalhadores. Foto do site do PCB:
Como sempre, o Estado reagiu e a forte repressão policial assassinou o operário Antonio Martinez. Com isso, as reivindicações se transformaram em uma greve geralautogerida, levando mais de 50 mil pessoas às ruas da cidade. Comitês de bairro, cozinhas coletivas e decisões tomadas em assembleias abertas tornaram-se parte do cotidiano da cidade.
Embora a greve tenha sido duramente reprimida, ela deixou marcas profundas, consolidando o 1º de maio como dia de luta, reforçando a presença do anarquismo no imaginário político brasileiro mostrando que era possível organizar trabalhadores sem partidos ou líderes hierárquicos. Com a chegada do governo de Getúlio Vargas, e uma série de ações populistas, como a legislação sindical corporativa, o anarquismo perdeu espaço institucional. Mas, o próprio União dos Operários fica como legado até os dias atuais.
A sede do clube e seu estádio ficam localizados no Belenzinho, próximo da Ponte de Vila Maria e nasceu idealizado por operários da região.
Com tanta história, dá até emoção de pisar em um campo que há mais de 100 anos está dedicado não só ao futebol como ao futebol operariado, oferecendo abertura aos trabalhadores que muitas vezes não tem essa oportunidade.
Além do campo, existe uma estrutura dedicada a outros esportes e ao social no clube, como se pode ver ali atrás do gol da direita:
Sua arquibancada de madeira é simples, mas muito charmosa. Me pergunto se algo dessa estrutura ainda é original…
Ao fundo do gol da esquerda, um estacionamento, item importante nos dias de hoje:
E aqui, o meio campo, com algumas belas árvores ao fundo.
Minha dúvida, ao ver o mapa de 1958, é que aparentemente não havia campo ali, mas haviam outros campos ali pra baixo:
Veja o mapa atual e perceba ue apenas o campo da Camisa 12 segue ali abaixo do Estádio do União dos Operários FC.
Um pouco do que rolou na mídia relacionado ao time, começando lá em fevereiro de 1921 quando o time se limitava aos amistosos e à várzea (detalhe importante é que o adversário AA Estrela de Ouro já disputava os campeonatos da FPD daquele ano):
Agora pra falar de sequência do time, vou usar como base as informações do livro “Esquecidos”, o velho testamento do futebol paulista.
No livro, entendi que após a fase de amistosos e disputas não oficiais, em 1927, o União dos Operários Futebol Clube passou a disputar a Série Principal da Segunda Divisão da LAF, vencendo 2 jogos (2×1 frente o CA Brasil, 2×1 no HúngaroPaulistano) e empatando em 2×2 frente o CA Tiradentes, antes de abandonar o campeonato se transferir para a APEA.
Assim, no ano seguinte, em 1928, passou a disputar a DivisãoMunicipal da APEA (acima dela estava a Divisão Especial, a 1ª e a 2ª divisão).
Em 1929, passa a disputar a Segunda Divisão da APEA:
Em 1930, teve uma boa participação na segunda divisão da APEA, terminando na 5ª colocação:
Em 1931, o União dos Operários foi vice campeão da segunda divisão da APEA!
Com a boa colocação, no ano seguinte em 1932, o União foi disputar a primeira divisão da APEA, que equivalia ao segundo nível do futebol paulista, não se confunda… Ainda existia a Divisão Especial, onde o Palestra Itália sagrava-se campeão.
Campeonato de 1933:
O Campeonato de 1934 marca a despedida do União dos Operários dos campeonatos organizados pelas diferentes Federações.
Mas, fuçando um pouco pelos jornais, encontrei alguns registros de aventuras do time como aqui, em 1955, fazendo o jogo de abertura de um Portuguesa x Palmeiras:
Em 1957, o Palmeiras participou da celebração do aniversário do time:
Enfim… O mundo mudou, o time mudou, mas seu distintivo segue vivo no campo em que estivemos, que talvez nem seja o mesmo do seu início… Mas a história dos operários segue viva no esporte!
No fim de semana de 8 e 9 de novembro, estivemos por Cosmópolis e a cidade estava respirando futebol! No sábado pela manhã, o Cosmopolitano Sports (agora de distintivo novo, como se vê abaixo) emprestou o Estádio Telmo de Almeida para que o Guarani disputasse a partida de ida das semifinais do Campeonato Paulista sub17.
Dê uma olhada em como estava bacana o clima no Estádio Thelmo de Almeida, mesmo em uma manhã chuvosa…
Cosmópolis tem respirado futebol de um jeito especial. A cidade carrega uma relação histórica com o esporte, por meio dos seus 2 times (Cosmopolitano e a Funilense) parece voltar a se acostumar a conviver com partidas decisivas.
O Estádio está praticamente pronto para receber a copinha de 2026!
Em campo, os visitantes não deram muita bola pro campo, nem o adversário e venceram a partida por 2×1!
Aqui, o gol da esquerda:
Gol da direita:
Meio campo:
O Guarani levou perigo tentando empatar…
Vista da arquibancada visitante:
Torcida do Guarani saiu meio brava com o resultado, mas o Bugre chegou até a semifinal revertendo fora de casa placares adversos, então… A esperança sobrevive!
A estrutura do Thelmo de Almeida impressiona pela organização e cuidado. Arquibancadas limpas e gramado bem tratado. A cada reforma, o espaço reafirma seu papel como casa do futebol cosmopolense e símbolo de resistência esportiva no interior paulista. Não a toa teremos copinha aqui em 2026…
Mudando de campo e de organização, seja bem vindo ao campo do Mancha Futebol e Samba, onde duas partidas das quartas de final do campeonato amador de Cosmópolis acosnteciam!
Se no sábado a manhã foi chuvosa no Estádio Thelmo de Almeida, o domingo brindou a torcida com forte sol!
Esses torneios amadores revelam o verdadeiro coração do futebol: paixão sem contrato, rivalidade sem violência e muito amor pela camisa. É nesse ambiente que surgem os novos talentos e onde o torcedor se sente parte da história, celebrando o jogo como um ato coletivo de alegria. E esse time, alguém aí conhecia?
A seleção de Cabo Verde se classifica para a Copa do Mundo 2026
Em outubro de 2025, o futebol teve mais um tabu quebrado: Cabo Verde, os “Tubarões Azuis”, entrou para o hall das seleções que garantiram vaga inédita para a Copa do Mundo de 2026.
Para termos ideia de como a notícia repercutiu entre o povo caboverdeano, fomos, eu, Artur e a Luca, até a sede da Associação Caboverdeana do Brasil, que fica em Santo André para conversar um pouco com o pessoal!
Pra começar, vamos conhecer o pessoal que nos recebeu tão bem lá na Associação:
A sede da ACB (Associação Caboverdeana do Brasil) é muito legal e cheio de imagens que resgatam um pouco da cultura do país.
Muitos não sabem, mas Cabo Verde foi colônia portuguesa e por isso tem como língua oficial o Português, mas ainda assim é muito pouco conhecido no Brasil. Porém, a vitória contra a seleção do Essuatíni, na última rodada das Eliminatórias fez com que as coisas mudassem demais!
E a gente entrou no clima!
Mas o pessoal da ACB tem muita história pra dividir com a gente, não só sobre o futebol mas como se deu a vinda dos caboverdeanos para o Brasil:
A presidente da Associação também esclareceu um pouco mais sobre a cultura caboverdeana e as semelhanças e diferenças com a cultura brasileira.
Também descobrimos que existe uma Associação em Santos:
E deu pra falar de futebol local também e aprender que o processo de imigração é a base da atual seleção de Cabo Verde
A conquista da seleção de futebol de Cabo Verde representa um dos capítulos mais inspiradores do futebol africano. O país, formado por um pequeno arquipélago no Atlântico, iniciou sua trajetória internacional em 1978, após a independência de Portugal. E você conhece esse arquipélago?
O papo rendeu, deu pra perguntar sobre questões mais difíceis como racismo…
E finalizamos o nosso papo ouvindo um pouco do dialeto crioulo!
Por décadas, Cabo Verde enfrentou limitações estruturais e econômicas, mas construiu uma identidade marcada pela garra e pelo talento de jogadores espalhados pelo mundo. O ponto de virada veio nos anos 2010, com a primeira participação na Copa Africana de Nações em 2013, quando surpreendeu o continente ao chegar às quartas de final.
Importante ressaltar que com a classificação para a Copa de 2026, Cabo Verde tornou-se a segunda menor nação a qualificar-se para uma Copa do Mundo, (população de pouco menos de 525.000 pessoas) superada apenas pela Islândia (cerca de 334.000 pessoas) que disputou a edição de 2018, na Rússia. Fica nosso agradecimento ao pessoal da ACB e um abraço especial pros jovens Artur e Luca que fizeram o rolê acontecer!
Em novembro de 2025, resolvi celebrar meu aniversário reunindo a família na pacata cidade de Águas de Santa Bárbara, mas, como o interior é cosmopolita, aproveitei para dar um pulo na cidade de Óleo e em Manduri, onde aproveitei para registrar mais um estádio.
Já estivemos em Óleo e escrevemos sobre o futebol local, veja aqui, dessa vez aproveitei para rever a linda estrada que dá acesso à Fazenda Nova Niagara, onde meus avós viveram por alguns anos no início do século passado…
Guardando a entrada da Fazenda, uma família de lagartos…
Ah, que dia lindo para relembrar o passado…
O rolê serviu para conhecer e registrar Manduri, cidade no meio do caminho entre Águas de Santa Bárbara e Óleo, começando pela antiga estação de trem, onde meu avô costumava descer quando, morando em Indiana desejava visitar os amigos que viviam em Óleo. Ali em Manduri, um compadre que possuía um “carro de praça” (era assim que chamavam os taxis) o levava até a Fazenda Niagara…
Da estação ao Estádio Municipal Márcio José Cabral é um pulo! E esta é a sua fachada, em 2025.
Vamos ver a parte interna do Estádio?
Além de ser a atual casa do futebol amador da cidade, o campo também recebeu os jogos do Manduri AC, time fundado em 1954. O distintivo abaixo é do site Arquivos Futebol Brasil:, mas não parece com o da camisa nas fotos abaixo:
O site Acontece Botucatu trouxe uma foto com a seguinte formação do time que disputava a Liga de Futebol de Piraju: Vandinho, Flavião, Mané do Jango, Luiz Antonio, Cacá, Dito, Vantielli e o treinador Renê. Agachados: Passarelli, o mascote China, Pedro Arbex, Zé Airton e Zé Eugênio Almeida.
O pessoal do Diário de Manduri coloriu a foto:
A Gazeta Esportiva de 7 de outubro de 1955 traz uma notícia relacionada ao Setor 42, zona 12 do Campeonato Amador: a vitória do Manduri AC sobre o EC Ferroviário de Bernardino de Campos.
Também encontrei uma notícia sobre um amistoso de 1956, contra o Paulistinfa:
E não é que o troco veio no ano seguinte?
Somente em 14 de abril de 1957 é inaugurado o Estádio Municipal:
Em 1958 disputa novamente o Campeonato do Interior:
Outro time da cidade foi o Graminha FC, distintivo do site Escudos Gino:
Tudo isso, há apenas 60 anos atrás… O gol era objeto de respeito e continua bem cuidado!
Olha aí o banco de reservas!
O gol da direita mostra como o gramado está em perfeitas condições:
O gol da esquerda:
O meio campo:
Curta o clima do estádio!
As árvores mantém a arquibancada bastante fresca.
E dependendo do horário, até o goleiro curte uma sombrinha…
A 225ª camisa de futebol do nosso site veio lá de Rondônia, via o amigo Marcel Guariglia que roda o Brasil mapeando projetos de sustentabilidade. O dono da camisa é o Real Madrid Paiter, time do povo Paiter Suruí. E como os europeus se apropriaram de tantas coisas dos povos originários, nada melhor do que uma doce vingança: os Pater Suruí se apropriaram do nome, da coroa, do distintivo e da camisa do poderoso Real!
Aproveitamos a oportunidade para bater um papo com Oyniin Suruí, que hoje atua na comunicação do Real Madri Paiter, assista, e se não for inscrito no nosso canal do Youtube, faça isso e deixe seu like lá no vídeo pra que ele chegue organicamente a mais pessoas.
Atualmente, cerca de 1.900 pessoas vivem em 24 aldeias dentro da Terra Indígena Sete de Setembro e além do time de futebol o povo Paiter Suruí foi o fundador da primeira agência de turismo indígena do Brasil e tem se mostrado super atuante na produção cultural, como o livro que conta sua história:
Os Paiter Suruí relatam que seus antepassados migraram das proximidades de Cuiabá para Rondônia durante o século XIX, fugindo da perseguição dos brancos. E tudo ficou em paz até a década de 60, quando os conflitos com os não indígenas retornaram.
No dia 7 de setembro de 1969, funcionários da Funai tiveram o primeiro contato oficial com o povo Suruí. E dali em diante, a história se repetiu: vieram surtos de sarampo, gripe e tuberculose, que reduziu pela metade sua população. Pra piorar, os que sobreviveram viram seu território invadido por colonos que exploraram recursos naturais, como extração ilegal de madeira e mais recentemente a busca por minérios. Nem todo Agro é Pop.
Os Suruí de Rondônia se autodenominam Paiter, que significa “gente de verdade, nós mesmos”, e falam uma língua que pertence ao grupo Tupi da família Mondé.
Hoje, eles têm usado a internet para denunciar o avanço do desmatamento, mas ainda mantêm muito das suas tradições, tanto no que diz respeito à cultura material quanto aos aspectos cosmológicos. Para conhecer mais, vale visitar o site Paiter Suruí.
Falando sobre o Real Madrid Paiter, é preciso ressasltar que ele não é um clube profissional, surgiu nas aldeias da região de Cacoal, em Rondônia. O time disputa campeonatos locais como o “Ruralzão” e torneios indígenas.
O nome segue uma tradição de batizar seus coletivos com nomes ligados a projetos de sucesso. Além do Real Madrid, existe o “Barcelona Suruí”, e os dois fazem o “clássico” no Ruralzão de Cacoal.
Alguns atletas chegaram a jogar profissionalmente o Campeonato Rondoniense pelo União Cacoalense.
Em julho de 2025 estivemos no Piauí, dando um super rolê por diversas cidades e aprendi que a capital Teresina fica ao lado de Timon, já no Maranhão, sendo divididas pelo rio Parnaíba.
O rio Parnaíba é o maior rio nordestino, navegável em toda sua extensão, sendo super importante para a economia do Piauí, não só para a pesca mas potencializando as atividades agropastoris, o transporte, a produção de energia elétrica, além do abastecimento urbano, lazer e turismo.
E atravessando o rio… Chegamos a Timon, já no estado do Maranhão!
Timon é a quarta cidade mais populosa do Maranhão mas faz parte do dia a dia da grande Teresina. Com base nos estudos sobre a presença indígena na área, pode-se supor que diversos grupos tenham habitado a região como os Gamela que transitavam entre o leste do Maranhão e o oeste do Piauí, povo agricultor e caçador, e que acabaram catequizados ou escravizados entre os séculos XVII e XVIII. Além dos Gamela, também haviam os Tremembé, os Timbira (que eram uma espécie de confederação de povos Jê), além de certa influência dos Tupinambá e Tabajara. Pedi pra IA uma imagem de como seriam os Gamela e olha aí o que veio:
A ocupação da região começou no século XVIII, por estar no traçado da estrada real que ligava os dois estados (Piauí e Maranhão) e fez com que fazendeiros, jesuítas e aventureiros acabassem se estabelecendo ao longo do caminho que de tão florido deu o nome ao lugar de… “Flores“. Somente em 1940, ocorreu a mudança de nome do município de Flores para Timon, numa homenagem ao intelectual maranhense João Francisco Lisboa, que deixou uma obra com o título Jornal de Tímon, numa referência ao célebre filósofo da Antiga Grécia.
Além disso, também no início dos anos 1940, tendo o Sr. Urbano Martins como interventor nomeado por Getúlio Vargas, foi construído campo que seria o Estádio Miguel Lima.
Atualmente, quem manda seus jogos la é o Timon Esporte Clube.
O TEC é um time recente, fundado em 2005 e que passou a disputar a série B do Campeonato Maranhense em 2007. Depois disputou as edições de 2010, 2014, 2017, 2018, 2019, 2020 (quando acabou rebaixado para a terceira divisão, pela perda de 16 pontos por uma irregularidade), 2021 (não houve terceira divisão e acaba voltando pra segunda), 2022, 2023, 2024 e 2025. O time chegou a bater na trave do acesso por várias vezes…
Outro time da cidade é a Sociedade Esportiva Juventude Timonense, fundado em 14 de janeiro de 2008, que atuava focado no futebol feminino mas que mais recentemente passou a ter equipes de base no masculino também.
A SEJ Timonense foi campeã do Campeonato Maranhense de Futebol Feminino de 2019, representando o Maranhão na série A2 do Campeonato Brasileiro de 2020. Em 2019 e 2022 também conquistou o título estadual.
E cruzando as ruas da cidade, enfim chegamos à casa do futebol de Timon…
Então é hora de conhecer o Estádio Miguel Lima, onde meninas e meninos escrevem suas histórias no futebol profissional e amador!
Como as portas estavam abertas, fomos dar um rolê e conhecer um pouco deste estádio já tradicional na história do esporte da cidade.
Vale um registro com sua bela arquibancada de fundo!
O gramado estava em dia, principalmente se considerarmos o forte calor da região e a falta de chuva do seco inverno piauiense.
O Estádio possui ainda uma pista de atletismo em torno do campo, que permite a prática de outros esportes à população.
O banco de reserva é de cimento. Pode não ser tão estiloso, mas dura mais…
Ali atrás do gol, um ginásio esportivo que complementa o equipamento municipal.
Acima da arquibancada, temos várias cabines de rádio em uma estrutura simples mas muito bem planejada.
Tradicional registro do gol da direita:
O gol da esquerda:
E o meio campo:
Para finalizar, não podíamos deixar de falar de outro time sediado em Timon, mas que não manda seus jogos nem em sua cidade natal, nem mesmo em seu Estado natal: o Esporte Clube Timon!
O Esporte Clube Timon disputa os campeonatos no estado do Piauí, sendo filiado à Federação de Futebol do Piauí, desde 2015. O time foi vice-campeão da Segunda Divisão do Campeonato Piauiense de 2019, conquistando o acesso para a 1ª divisão do estadual de 2020.
Recentemente, tivemos em Santo André uma feira de cultura do Afeganistão e eu achei incrível a oportunidade de poder conhecer um pouco do povo que nasceu tão longe e atualmente, por problemas sociais, políticos e até religiosos, está vivendo no nosso país. Olha que bacana!
Nova formação do Visitantes? Não, não, só um papo intercontinental sobre música.
E olha cada coisa gostosa…
Além de experimentar várias comidinhas deliciosas e de trocar um monte de ideia sobre cultura em geral, acabei registrando um papo sobre futebol com um dos afegãos que estiveram ali, se liga:
É difícil falar sobre o futebol sem tentar minimamente entender a história do país. Devido à sua localização estratégica ligando o Oriente Médio à Ásia Central e ao subcontinente indiano, o território do atual Afeganistão foi um ponto essencial para a rota da seda e para a migração humana, sendo ocupado por diversos povos.
Seu território sempre foi muito disputado desde a antiguidade até os dias atuais. A história moderna do Afeganistão começa em 1709, com a ascensão dos Pachtuns (ou “pastós”) ao poder em 1747. Em 1776, sua capital foi transferida de Candaar para Cabul. No final do século XIX, o Afeganistão acabou servindo de divisa “neutra” entre os impérios britânico e russo, por isso essa parte mais estreita, porém longa no lado leste do país.
O Reino do Afeganistão, por vezes referido como Reino de Cabul, foi reconhecido como um estado soberano pela comunidade internacional após a assinatura do Tratado de Rawalpindi em 1919. Mas provavelmente você já viu alguma coisa referente à história do país e nem lembra, como por exemplo o livro “O livreiro de Cabul”. Ou veja aqui uma lista de 10 filmes sobre o país.
Após a segunda guerra, a guerra fria teve um desdobramento importante no país: a União Soviética passou a se relacionar mais intensamente com o Reino. Em 1973, a monarquia foi derrubada pelo grupo do general Sardar Mohammad Daoud Khan (esse da foto abaixo), primo do rei Mohammad Zahir, e a URSS torna-se forte aliada da recém formada República com a promessa de maior democracia.
Porém, aos poucos, os EUA foram se reaproximando do governo o que culminou em um novo golpe, em 1978, dessa vez dado pelo partido comunista local, fazendo a URSS voltar a ter protagonismo no Afeganistão. E para evitar futuros problemas e a sensação de incerteza política, os soviéticos decidiram ocupar o país em 1979.
Nem toda a população local curtiu esse movimento, principalmente os grupos extremistas islâmicos que criou uma resistência armada por meio de guerrilhas, como o grupo Mu Jahedin.
E adivinha quem apareceu para apoiar estes guerrilheiros com armas, treinamentos e grana? Se você disse Estados Unidos da América, acertou! Aliás, um dos que receberam essa ajuda foi um cara chamado Bin Laden…
Para os americanos, tudo valia a pena desde que barrassem o crescimento da influência soviética no mundo. E acabou dando certo, pois em 1989, a União Soviética decide tirar suas tropas do Afeganistão, mas o que se viu na sequência foi uma verdadeira guerra civil.
Cara, que povo sofrido… É tiro de todo lado! Era um caos a situação pós União Soviética, mas as coisas ainda iriam piorar: um grupo miliciano dos Mu Jahedin formado por pachtuns conseguiu chegar ao poder em 1996. Era o nascimento do talibã e com ele um novo tipo de governo, legislado pela sharia, uma lei baseada em uma interpretação “beeem particular” do islamismo, bastante antidemocrático, fortemente bélico e que representaria um regresso no tipo de vida que o povo afegão vinha levando.
Só pra exemplificar e citando matéria e foto do G1 (veja aqui), o talibã proíbe música, maquiagem e que as meninas de 10 anos ou mais vão à escola.
Porém, as coisas iriam mudar drasticamente com o ataque às torres gêmeas nos EUA em 2001 pelo grupo Al-Qaeda. Os americanos declararam guerra ao terrorismo e o líder do grupo Osama Bin Laden tornou-se seu principal alvo, como mostrou a capa do “New York Post” de 18 de setembro de 2001:
Tentando fugir dos seus perseguidores, adivinha para onde fugiu Osama Bin Laden? Para o Afeganistão. Assim, dando sequência à “Guerra ao terror”, os EUA invadem o Afeganistão e retiram o talibã do governo.
Porém, assim como aconteceu com os soviéticos, os americanos passaram anos ocupando o país e enfrentando guerrilhas e atentados realizados pelo talibã.
O custo financeiro e também das vidas perdidas, fez com que, em 2014, o então presidente Barack Obama decidisse começar a retirar suas tropas do Afeganistão. Na sequência, Donald Trump iniciou negociações diretas com o próprio talibã para negociar o futuro do país com a saída do exército americano. Somente no governo de Joe Biden, em 2021, a saída das tropas se deu na prática. Imediatamente o talibã atacou o “governo” e voltou ao poder, para o desespero da população local que tentou de todas as maneiras fugir…
O país volta a se chamar Emirado Islâmico do Afeganistão.
Para um resumo de toda essa história, recomendo o vídeo abaixo
A atual retomada do poder pelo talibã, significa voltar um cenário desolador, prejudicando diversas atividades culturais, entre elas o futebol.
Contextualizando a história do futebol, chegou a existir uma seleção nacional ainda nos anos 20 (veja foto abaixo), e a Federação Afegã foi criada em 1922, filiada na FIFA em 1948, e na Confederação Asiática de Futebol desde 1954, sendo um dos seus membros fundadores.
O primeiro clube de futebol afegão foi o Mahmoudiyeh FC, fundado em 1934. Depois surgiu o Ariana Kabul FC, em 1941. De 1946 a 1955 existiu a Liga de Cabul (Kabul Premier League), que teve um único campeão em suas 10 edições: o Ariana Kabul FC. A Liga não foi disputada de 1956 a 1968, retornando na temporada 1968/69 com dois clubes (Habbibiya e Pas Cabul) e a partir de 1978 com 16 clubes. A partir de 1984, com a intervenção soviética não houve mais disputa. Depois, sob o domínio talibã, o futebol era permitido, mas a popularidade deste esporte foi explorada para espalhar propaganda, a ponto de usarem os estádios para realizar execuções públicas na frente de milhares de espectadores nos intervalos dos jogos.
O regime também proibiu mulheres de praticarem esportes, o que levou a protestos de muitas atletas e à saída do país da ex-capitã da seleção afegã, Khalida Popal, em 2011.
Com a queda do talibã em 2001, a Federação volta a atuar com afinco. A Seleção Afegã de Futebol vence o Campeonato da Confederação Sul-Asiática de Futebol (SAFF) de 2013.
Em 2012, uma nova Liga do Afeganistão foi fundada, a Afghan Premier League (APL), também conhecida como Roshan Afghan Premier League.
Sob ocupação dos EUA, o american way of life chegou ao futebol: um reality show chamado Maidan e Sabz definiu pelo público da tv os atletas que compuseram as oito equipes, cada uma representando uma região no Afeganistão, a disputar o Campeonato Nacional a partir de então. Veja um dos capítulos:
Então, vamos conhecer os 8 times, começando pelo Shaheen Asmayee FC. “Shaheen” significa falcão, enquanto “Asmayee” refere-se às majestosas Montanhas Asmaye que dominam o horizonte da capital, Cabul.
Shaheen Asmayee representa Cabul, a capital do país, onde vivem mais de 5 milhões de habitantes. Conquistou 4 títulos da Premier League Afegã (2013, 2014, 2016 e 2017), este é o time de 2013:
Outro time é o Toofan Harirod. Toofan significa “Tufão” e Harirod é o nome do rio com mais de 1.100 quilômetros de comprimento, que flui até a fronteira iraniana, dividindo os dois países.
Toofan Harirod representa a zona ocidental do país e foram os primeiros campeões da Afghan Premier League (APL) em 2012.
Encontrei até uma foto de uma torcedora no campo:
Falemos agora do Simorgh Alborz, que representa as províncias do norte. Simorgh é o nome de uma ave mítica e Alborz é o nome da cordilheira presente na região.
O Simorgh Alborz foi vice-campeão da APL de 2012 e 2013.
Já o Oqaban Hindukosh, tem seu nome em homenagem à cordilheira Hindukosh que serve de casa para as grandes águias do Afeganistão (Oqaban).
Mawjhai Amu representa o nordeste do Afeganistão. Amu é o nome do rio que se estende desde as montanhas de Pamir até o Mar Aral, fazendo fronteira com o Tajiquistão, Uzbequistão e Turquemenistão. Mawjhai significa “onda”.
Representando a região oriental do Afeganistão, temos o time do De Abasin Sape. Abasin é o nome Pashto do rio Indus, que alimenta muitos pequenos rios no Afeganistão. Sape é uma palavra de Pashto que significa ondas.
Representando as Montanhas Spinghar, as Montanhas Brancas, na parte oriental da cordilheira Hindukosh temos o Spinghar Bazan. Bazan significa falcões, muito comuns pelo Afeganistão, especialmente nos climas montanhosos mais frios.
A 8ª e última equipe, representa as províncias de Kandahar, Nimroz, Helmand, Zabul e Orozgan: De Maiwand Atalan. Seu nome vem de uma famosa aldeia no norte de Kandahar chamada “Maiwand”, conhecida pela Batalha de Maiwand, durante a Segunda Guerra Anglo-Afegã e complementado com o “Atalan”, que significa “Campeões”.
Seria lindo acabar por aqui com você imaginando quanta pujança no Campeonato do Afeganistão, mas… A volta do talibã, em 2021 trouxe uma série de mudanças, a começar pelo nome do campeonato, que passou a ser Afghanistan Champions League.
Um fato triste é que um ex-jogador da seleção de base do Afeganistão, Zaki Anwari, que tentava fugir do país agarrado a um avião acabou morrendo…
Antigos clubes foram reativados no lugar daqueles criados durante a ocupação americana, e uma tentativa de usar o futebol como propaganda de que o talibã está menos agressivo. Será? Os times atuais são o Attack Energy:
O FC Sorkh Poshan…
O Istiqlal_FC…
E o Abu Muslim, entre outros…
Aqui, a classificação final do campeonato de 2022:
Mas se o talibã voltou, também temos viva a luta da eterna capitão do time feminino Khalida Popal! Vivendo como refugiada na Dinamarca, ela voltou a desafiar o sistema do talibã com o objetivo de resgatar meninas e mulheres atletas do próprio país.
Montou uma organização muito legal: a Girl power! (clica aí e confere) Ela escreveu um livro que eu ainda quero ler: My beautiful sisters
Eae? Você já sabia algo do Afeganistão? O post ajudou? Ou você nem chegou a ler essa última linha? O mundo é enorme!