Lá se vão 16 anos daquele 30 de junho de 2004… Um dia pra ser guardado eternamente nos corações e mentes de todos os torcedores do Ramalhão.
Preparamos dois presentes para essa data: um é este post, o outro é o clipe do Visitantes, que você vê em primeira mão:
Não sei quando foi que me dei conta de que o Santo André realmente estava na final da Copa do Brasil em 2004. Tantos desafios foram vencidos até ali, que eu já não sabia se aquilo tudo era apenas fruto da minha imaginação.
Pra me deixar ainda mais confuso, acordei numa quarta feira, onde normalmente trabalho, e, pasmem, estava prestes a ir ao Estádio Mário Filho, o “Maracanã” acompanhar a final in loco, eu que nunca havia assistido a um jogo sequer ali…
Como não conseguimos ir com a torcida, numa última tentativa, ligamos no clube e conseguimos vagas no ônibus que estava fretado pela diretoria do Santo André.
Ainda duvidando da realidade, era por volta das 10 horas quando o amigo Márcio (esse que a gente homenageia no clip do Visitantes), junto do seu irmão Matheus e de Anderson, o “Gigante” começou a buzinar em frente de casa.
Fomos em carreata fazendo um auê até o Jaçatuba, de onde sairia nosso ônibus.
Após uma espera angustiante, a viagem enfim começou, e com ela, os causos contados pelos companheiros de viagem, sendo que alguns eram diretores do clube e se divertiam revelando fatos dos bastidores, enquanto tocava o hino do Santo André.
Além do nosso veículo, ainda tinha um micro ônibus nos acompanhando levando outros amigos como o Luiz Henrique da Ramalhonautas (primeira torcida virtual do Ramalhão).
Por volta das 15:00hs, paramos num posto meia boca e fizemos uma boquinha.
O ônibus volta ao seu percurso, sentado atrás da gente estava um diretor financeiro do Santo André e pouco mais à frente o Wigand, antigo presidente do clube, uma verdadeira lenda!
Logo que chegamos ao estado do RJ, uma ótima notícia, nos encontraríamos com o time no hotel, e dali sairíamos juntos.
Adentramos na Serra das Araras e vejo o primeiro carro com bandeira do Flamengo. Começo a pensar que este será o jogo onde verei o maior número de torcedores rivais na minha vida… Não me abalo, estou confiante, e no fundo o placar em si, já nem me importa mais, quero só mostrar meu orgulho deste time, que acompanhamos há tanto tempo.
Estamos quase chegando na cidade do Rio de Janeiro. São 6 da tarde e percebo que pegaremos o horário do rush na Av. Brasil, o que nos atrasaria bastante.
Um dos organizadores nos informa que não iremos mais pro hotel, e sim direto pro estádio, mas que teríamos escolta da polícia assim que chegássemos na cidade.
O motorista parece meio doido, corta boa parte do transito, faz um caminho louco, entra e sai de quebrada. O rádio informa que o movimento já é grande ao redor do Maracanã, também, pudera, já era 19:25hs.
Após muitas voltas, caímos em uma grande avenida, já abarrotada de flamenguistas, onde podemos visualizar o Maracanã ao horizonte.
Devemos estar uns 4 km longe, e a nossa frente… aquele trânsito…. Tinha muita gente indo pro jogo, muita mesmo.
De repente, o micro ônibus que estava com a gente parou e começou a sair uma nuvem de fumaça enorme… Alguém gritou: “Pára motorista!! O ônibus deles ta pegando fogo!!!!!!”.
Só depois percebemos que, na verdade, o pneu dele havia caído dentro de um bueiro, e acabou socorrido pelos torcedores ramalhinos com a ajuda de alguns flamenguistas…
A situação estava um caos, o ônibus não havia andado 500 metros nos últimos 20 minutos, mas de repente, como uma miragem no deserto, aparece o ônibus da delegação, com a escolta!
Mas… Nosso motorista vacilou e perdeu a chance de chegarmos mais rápido.
Agora somos nós contra 70 mil rubro-negros espalhados pelas ruas do bairro, e dá lhe arrastões, bondes, provocações com a gente, e muito vermelho e preto….
Justiça seja feita, em momento algum nos colocaram em situação de risco real.
Era muita gente, e parecia que ninguém se movia, parecia um formigueiro humano…
Essa foto é incrível, veja a galera já reconhecendo a gente como torcida do Santo André: uns dão joia, outro arremessou um pedaço de gelo, e outros dois com as mãos à cabeça parecem se perguntar “O que esses loucos vieram fazer aqui???”:
Após mais de uma hora nesse inferno, chegamos em frente ao Maracanã, o massagista do time, que estava no nosso ônibus decidiu descer em meio à torcida deles pra não perder o jogo. Já era 20:40hs!
A foto não saiu “legível”, mas fiquei emocionado ao ver uma faixa que dizia algo como “A Torcida Banguense deseja sorte ao Santo André”.
Quando tudo parecia se acertar, o motorista fez merda de novo e perdemos o portão 13 que iria nos dar acesso aos nossos lugares…
A decisão mais acertada parece ser descer ali mesmo, em meio ao mar rubro negro. A galera começa a ficar nervosa… Alguns acham arriscado, mas o motorista se recuperou dos erros e dando uma ré no meio daquela loucura, o ônibus conseguiu entrar no estacionamento.
Descemos e a polícia chegou. Embora parecessem mais guardadores de carro do que policiais, e tivessem no máximo 20 anos, toparam nos guiar até as catracas passando pelo meio da torcida local.
Assim que retirei meu ingresso da catraca, já não havia mais nenhum policial conosco. A partir dali, era por nossa conta.
Subimos as escadarias do Maracanã com a galera cantando “Meeeengoooooooooo”… Era uma festa tão contagiante que até a gente tava cantando….
No momento em que chegamos no fim das escadarias, não acreditei no que via…
Pra quem gosta de futebol, não importa o time, aquela é uma visão maravilhosa: o Maracanã lotado, com muitas bandeiras, faixas, confetes, e tudo mais, além da vibração da galera…
Não haveriam lugares separados para os torcedores paulistas, e nos pusemos a contornar o anel da arquibancada, buscando algum lugar ao menos pra sentar (tava muito lotado… aquele empurra empurra, gente indo, vindo…).
Enquanto procurávamos um lugar falei pro meu pai “Hoje é histórico pra nós, mas é pra eles também…”.
Na mesma hora, o cara do meu lado virou pra mim e falou “Oh, tu é paulixxxta! Tu veio até aqui torcer pro Sant’André? Não vai querer gritar aqui hein…”.
Voltei à realidade… Estava em outro estado, no meio da maior torcida do país, indo torcer pro time contrário, e não podia sequer abrir a boca, que já me identificariam…
Encontramos uma seqüência de cadeiras vazias e sentamos. O pessoal do ônibus se separou e sentou por ali.
E não é que em meio aquela bagunça toda, alguns dos nossos torcedores começaram a gritar “É Santo André!!”… Virei pra conferir e estavam com as camisas do ramalhão, como se estivessem no Brunão, gritando. A torcida local começou a chiar, mas foi a loucura mesmo quando eles abriram uma faixa com uma mensagem pro Galvão. Voaram latas, sanduíches, chinelos e etc…
Quando o pior tava pra acontecer apareceu a polícia para tira-los de lá.
O policial os convenceu a irem pras arquibancadas junto da TUDA e da Fúria (que estavam no anel inferior, atrás do gol).
Assim que eles sairam um flamenguitsa veio e gritou: “Aê, aê, é tudo paulixxxta aqui ó, é tudo paulixxxta” e nos apontou…
Assim que sentamos os jogadores já saíram da pose da tradicional foto do campeão e foram para o campo, pro jogo começar.
O jogo rolava, e eu nem acompanhava direito de tantas coisas que tinham para ser obseravdas. Além disso, estava um jogo feio, truncado e quando eu comecei a querer assistir, alguém cutucou minhas costas, como que me chamando.
A princípio achei que fossem torcedores nossos, mas de repente ouvi a mesma pessoa me perguntar “Olha só, o Filipe é qual número?” Xi… fudeu… E era pra mim… Eu só tive tempo de responder num carioquês embrulhado “Ele é o déixxxx, mas jogava com a seixxxx”. Não deu certo… Ficaram me enchendo o saco dizendo pra não torcer ou eu teria que sair dali …
Lá embaixo a nossa galera se fazendo ouvir de tempos em tempos, mesmo com quase 80 mil torcedores gritando contra. A Fúria Andreense e a TUDA fizeram bonito aquela noite!
Assim que acabou o primeiro tempo, veio o meu inferno.
O local onde estávamos era tipo “cadeiras cobertas” e o que separa este setor dos outros é uma placa de um tipo de acrílico com quase 2 metros de altura. E os caras começaram a bater naquela placa e fazer um puta barulho, e gritar “Olha aqui tem paulixxxta”…
Meu pai tranquilizava dizendo “Calma, que o jogo vai recomeçar e eles te esquecem”.
Mas o 2o tempo começou e os caras não parar. Pra tentar me livrar disso, pensei em sentar junto com o Márcio, o Matheus e o Anderson… Pô, os caras são grandes, duvido que alguém vai vir nos encher o saco!
Comecei a subir e pude ver que a situação não estava boa pra nenhum andreense… Tinha cara abraçado à bandeira do flamengo tentando se disfarçar, outros, nem bem me viam e diziam baixinho, “Sai fora, que aqui eles já tão desconfiados”.
Quando cheguei no Márcio, vi que nem lugar pra sentar tinha… Eu me sentia uma batata quente, que ninguém queria segurar. Era melhor voltar ao meu lugar.
Voltei e pensei num plano “B”: sentar sozinho no meio da torcida deles pra me misturar. E foi o que eu fiz, assim que o Flamengo teve um lance de ataque, desci uns 10 degraus e sentei na única cadeira livre (claro, assim que sentei percebi porque estava disponível… a cadeira estava molhada…).
Estava em meio a uma criança e um homem de uns 40 anos. Pensei: “aqui eu to tranqüilo”. Meti minha toca (num calor de uns 35 graus), abaixei a cabeça e fiquei o mais encolhido possível.
Foi assim, e desse lugar que vi o sonho se concretizar. O Santo André fez 1×0.
O gol foi um soco no estômago na torcida rubro negra… Como não podia gritar pra comemorar, Márcio fez a primeira “selfie” dos anos 2000 pra registrar a alegria!
O tempo não passava direito, as coisas estavam cada vez mais tensas, e de repente… 2×0.
Pensei… “SOMOS CAMPEÕES!!!!!”, mas tudo o que pude dizer ao cara da cadeira ao lado foi “Que merrrrrda, hein merrrrmão”…
Só fui ter consciência do que acontecia após uma cobrança de falta do Flamengo que foi uns 3 metros acima da trave. Levantei a cabeça e vi que muita gente tinha gente indo embora.
Priiiiiiiiiiiiiiii!!! Ouvi o apito final do juiz. Já dava pra desabafar e chorar um pouco…
Reunimos boa parte do pessoal que veio conosco e gritamos “É Campeão” sendo aplaudidos por alguns torcedores do Flamengo.
Lá embaixo nossa torcida ia ao delírio!
O time passou a fazer a festa em campo!
Os diretores começaram a pular para as cadeiras da imprensa, e nós fomos atrás, até chegarmos em um túnel que levava à porta de acesso aos vestiários. Um a um, os diretores foram entrando até que na nossa hora, o segurança pediu nossas identificações e … Fomos barrados…
Tentei me lamentar com outro segurança que me deu a dica: “Entra naquela segunda porta, que você sai no campo”.
Tinha certeza que era alguma armadilha, afinal de onde estávamos víamos muitos torcedores do Flamengo deixando o estádio, sem nenhuma proteção entre eles e a gente. Mas, como era a única coisa a se fazer naquele momento, decidimos arriscar… Andamos um pouco e de repente, para nosso espanto…
Estávamos dentro do campo!!! Não consegui acreditar que entrávamos, sem qualquer impedimento no mais sagrado templo do futebol brasileiro.
Assim que entramos, os jogadores estavam rezando. Eu nem acreditava, e corri pra galera, pra tentar encontrar algum conhecido. Não conseguia enxergar direito e quase caí no fosso que separa a torcida do campo. Pude ver o Ovídio, o pessoal da Fúria, entre outros.
Quando voltei minhas atenções pro campo, vi o Márcio caído no gramado deitado e sorrindo.
Aproveitamos pra pegar no pé de vários jornalistas que nunca acreditaram em nós.
Depois, olho pro lado e vejo meu pai ajudando a carregar a taça pra dar a volta olímpica…
Tiramos fotos em tudo que foi lugar, no gol, no meio das entrevistas da jovem pan, no banco de reservas, na cadeira da globo…
Comemoramos com a torcida, como se fizéssemos parte do time. Olhava o Maracanã de dentro pra fora, pisava na mesma ponta de grama onde Garrincha fizera história, lembrei do filme do Pelé, e imaginei quantas jogadas aquele lugar não presenciou…
Era quase uma festa particular, exclusiva para umas poucas pessoas, nunca mais esqueceríamos o que vivemos naqueles momentos.
Pra acabar a noite, ainda fomos aos vestiários, conversamos com dirigentes, jogadores, tiramos fotos com o Chamusca, o Sérgio Soares, o Sandro Gaúcho, e até beijando a taça.
Meu pai agia como um jogador, bebia água, gatorade, deitava e relaxava nas cadeiras, só faltou tomar uma ducha e dar entrevistas.
Já era quase umas 2 da manhã, quando saímos por um portão lateral, e pra surpresa geral ainda havia alguns torcedores do flamengo, uns olhavam meio feio, outros queriam até trocar a camisa, mas nessa hora já não temíamos mais nada…
Subimos no ônibus, e cantamos até umas 3 ou 4 da manhã, quando paramos num posto. Após o posto, todos dormiram, satisfeitos, com o sabor de missão cumprida.
Só eu e meu pai ainda estávamos acordados (típico da nossa família), e chegamos praticamente destruídos de cansaço.
Era o fim de uma aventura e o início de uma nova era pra nós que acompanhamos o Santo André de perto há tanto tempo. Nada mais seria igual, nunca mais seríamos os mesmos. Só de olhar para o ingresso dá vontade de chorar…
O fim da história (se é que a história tem fim) nos levou da extrema felicidade à tristeza sem fim, quando o amigo Márcio, 7 meses depois faleceu em um acidente de moto, deixando as lembranças desse jogo como uma festa de despedida de uma amizade que tínhamos desde criança.
Esse post e o clipe são uma homenagem e lembrança ao nosso Ramalhão, mas sem dúvida, também é uma homenagem e lembrança a ele.
Há algum tempo que eu vi a chamada dessa série, mas estava com medo de ser aquela coisa muito estereotipada… Mas, como a quarentena oferece um pouco mais de tempo pra se dedicar, decidi dar uma chance e não me arrependo!
A surpresa foi positiva! Um bom painel histórico sobre o fim do século XIX, e como o futebol surge, ainda amador, no dia a dia das pessoas, sejam elas aristocratas burgueses, donos das indústrias ou operários da periferia inglesa, que viam no esporte uma das poucas alegrias da sua vida.
São apenas 6 episódios que contam muito mais do que a história do jogo… O “heroi” local é o escocês Fergus Suter, que se transfere para jogar na Inglaterra, pelo time operário do Darwen.
O Darwen é o primeiro clube de operários a chegar nas quartas de final e acaba desclassificado num jogo bem desleal. Mas… o futuro de Fergus guarda surpresas…
Mas mais do que jogar a Copa da Inglaterra ele se envolve no dia a dia dos operários, nas greves e dificuldades enfrentadas… E como os times do norte passaram a se unir e a se identificar para vencer os times dos “almofadinhas”.
Enfim, sei que nem todo mundo tem acesso à Netflix, mas aquele que por acaso o tenha, não faça como eu, não postergue, comece a assistir hoje mesmo!
Veja aí o trailer:
Dando sequência aos estádios do ABC, vamos falar do extinto Estádio do Primeiro de Maio FC (já falamos sobre o time, clique aqui pra ler), também conhecido como o Estádio da Rua Brás Cubas, na cidade de Santo André.
Lembrando que o futebol do ABC tem outros times, estádios e histórias, caso queira conhecer mais, veja aqui o Mapa do Futebol no ABC, desenhado pelo Victor Nadal. Pra falarmos do histórico Estádio da Rua Brás Cubas é preciso voltar à Santo André dos anos 20… Quando pouca coisa havia ali no centro ao redor do campo…
E pra isso, vamos contar com a ajuda do Grupo Santo André Ontem e Hoje, relembrando alguns visuais daquela época, como a “Venda da Menotta Domenica DellAntonia“, mãe de Pedro DellAntonia.
Outro importante ponto da época era Fabrica Kowarick, onde hoje fica o Assaí atacadista, ali ao lado da Estação Ferroviária.
Aquele era um tempo de grandes esperanças. Tudo era novo, o futuro estava a ser escrito e se as indústrias começaram a se tornar a principal característica da região. Logo, os operários encontraram no futebol uma das formas preferidas de diversão e a cidade de Santo André via surgir grandes times, entre eles o Primeiro de Maio FC. Para quem se interessar, vale a leitura do livro “História do Futebol em Santo André” (clique aqui e compre na Estante Virtual):
E em 1º de maio de 1923, o Primeiro de Maio FC inaugurava o seu estádio, na Rua Brás Cubas, a poucos passos de onde hoje está a Catedral do Carmo, na época ainda em construção.
Para a inauguração, foi convidado o time do Paulistano, que na época era um baita time e foi muito legal em topar vir inaugurar o Estádio. Podiam ter pego mais leve no campo…. Venceram o jogo por sonoros 5×2. Essa é a foto do dia do jogo, do dois times juntos:
As poucas fotos que consegui resgatar do Estádio da Rua Brás Cubas vem do livro do Ademir Medici e mostram ao fundo um centro de Santo André ainda bem diferente do que conhecemos atualmente.
Poucas casas, no máximo uns sobrados. Os prédios ainda demorariam décadas até chegar a nossa cidade.
No siteMeu Timão (dedicado ao Corinthians) encontrei o registro de um amistoso disputado ali em 1926:
A foto abaixo, de 1939, quando foi disputada uma partida em apoio às vítimas do terremoto no Chile.
Além de ser usado pelo time principal, o campo também era usado em outros momentos pelos sócios do clube.
O Primeiro de Maio FC não só fez história no futebol como viu a história da nossa cidade acabar com a natureza e também com o seu campo. O centro ficou muito “urbano” para conter um estádio, e o futebol acabou deixando de ser uma prioridade para o clube.
Mas a sede do Primeiro de Maio FC segue no centro da cidade, e pelo menos mantém na memória imagens como essas, que nunca…. nunca mais voltarão…
Enfim, num domingo, em 9 de junho de 1940, o Primeiro de Maio FC fez sua estreia no Campeonato Intermediário da Liga de Futebol do Estado de São Paulo, contra o time do Tramway da Cantareira FC (o “Estrada de FerroCantareira“).
O placar foi de festa! 5×2 para o Primeiro de Maio FC, para a festa da torcida, mas… Aquele ficaria marcado como o última ano do time no Estádio da Rua Brás Cubas… 17 anos de história que tiveram que dar lugar à expansão da cidade. Ainda em 1940, em abril, já com a notícia certa da perda da área do estádio, o time recebeu o São Paulo e levou uma goleada de 8×0… Mas para não terminar a história no Estádio da Rua Brás Cubas de forma melancólica, o juvenil do Primeiro de Maio FC recebeu, em outubro, o Juventus da Mooca e deixou um 10×1 de presente. O campeonato daquele ano terminaria seria jogado no Estádio do Corinthians de Santo André.
Pessoal, mais uma obra importante para os estudiosos da história, memória e dados do futebol.
Trata-se do livro “História do Campeonato Baiano 1905 – 2019“, do Júlio Bovi Diogo.
O livro possui 250 páginas, realizado no formato A5 e conta com a lista de participantes, os resultados de todos os jogos e a classificação de cada campeonato, desde 1906.
Tudo isso foi pesquisado com muito carinho e esforço pelo Júlio, um trabalho incrível que merece todo o reconhecimento daqueles que se envolvem com o futebol.
Pessoal, enquanto aguardamos a passada da quarentena, segue mais uma sugestão de livro para se estudar um pouco da história do futebol brasileiro.Dessa vez, o foco está fora do eixo Rio-SP. Trata-se do livro: História do Campeonato Cearense 1915 – 1985, contendo mais de 70% de fichas técnicas completas, equipes participantes, classificações, relação de artilheiros.
A obra foi feita por David Barboza, Eugênio Fonseca, Júlio Bovi Diogo e Rodolfo Pedro Stella Jr.São 201 páginas, no formato A4 (21cm x 29,7 com) em três colunas. Interessados entrar em contato com Júlio Diogo pelo email – juliodiogo@litoral.com.br ou whatsapp – (13) 99108 8457, são poucos exemplares, então caso tenha interesse, seja rápido!
Para falar do Grêmio Mauaense é preciso contextualizar a cidade de Mauá, outrora um distrito de Santo André chamado “Pilar” (porque ficava no caminho que ligava São Bernardo à Igreja do Pilar, em Ribeirão Pires. E sim, esse caminho fazia parte do lendário Peabiru que chegava até o Perú…).
Embora possua uma grande área de mata Atlântica, a cidade não para de crescer, infelizmente muitas vezes com ocupações irregulares degradando o meio ambiente e a vida das pessoas.
Atualmente, quase 500 mil pessoas vivam na cidade, e um terço da área é ocupado por indústrias, entre elas, importantes players do setor petroquímico, que contribuíram para diversos problemas de saúde na população local (veja aqui matéria sobre isso)…
Além disso, como em outras regiões metropolitanas, tem muita gente vivendo em condições de pobreza e diversos problemas sociais, que contribuiram para que Mauá carregasse uma série de preconceitos e injustiças, como se a cidade e sua população se resumissem a esses problemas.
Na minha visão, tudo isso fez com que a cidade criasse uma identidade própria, que acabou se transformando em cultura principalmente por meio da cena punk.
Vejamos por exemplo, a banda punk/Oi! Garotos Podres que transformou em orgulho a vida no subúrbio…
Em 1988, surge o Subviventes que transformou as noites de domingo de quem vivia no Sônia Maria (praticamente ao lado das chaminés da Petroquímica) em celebração da luta contra tudo isso! O vídeo abaixo é de um show histórico no Bigato’s Bar, ponto de encontro dos punks locais, em especial dos Carniça, a maior gangue punk da nossa região.
Outras bandas nasceram nos anos 90 e ajudaram a manter a chama da rebeldia social e da tentativa de sobreviver com uma identidade própria em meio a todos os problemas da cidade, entre elas, o Senso Crítico, uma das mais que tinha grande potencial musical.
A partir dos anos 2000 a cena punk do Sônia Maria ganha uma nova representante: o 88não! formado pelo Daniel Miranda, ex baterista do Subviventes pra cantar o amor por Mauá e o ódio ao racismo e ao fascismo!
Aqui, o time atual do EC Napoli, do Sonia Maria com o Daniel (baterista do 88Não!) e o Adeilton (ex vocal):
Esse post é uma homenagem a dois “Danieis” (esse seria o plural de Daniel?) que eu nem, sei se se conhecem, mas deveriam… Um é o Daniel Miranda, do 88Não! responsável por dezenas de shows da cena independente de Mauá.
Essa mesma injustiça que eu enxergo na cultura, também existe no futebol local, visto que mesmo tendo nascido cedo, ainda nos tempos do distrito, tem pouco reconhecimento da mídia. O Pilar Futebol Clube foi o primeiro time de Mauá, em 1919.
A foto abaixo é do time de 1922 e foi reproduzida do blog do Daniel Alcarria (clique aqui e conheça).
O Daniel Alcarria é o responsável pelo Almanaque Histórico do Grêmio Esportivo Mauaense. A gente esteve no lançamento do livro (lembre-se aqui como foi). Pra quem quiser adquirir, fale com ele: daniel.alcarria@gmail.com .
Falando sobre o Pilar FC, o time usava o campo próximo da atual Praça 22 de novembro, mas logo passou a usar o campo na região central, próximo aos fornos da olaria dos Perrella, onde fica o Mauá Plaza Shopping, atualmente.
Em 1938, o Pilar FC mudou de nome e passou a chamar Associação Esportiva Mauá.
Olha aí o time:
O distintivo deles evolui para este:
Outro time de Mauá do início do século era o Belo Horizonte FC, do bairro Pavoeiro, do qual muitos jogadores foram convidados para criar o Associação Atlética Industrial, fundado no dia 1º de outubro de 1921.
O time surgiu dentro da Fábrica de louças, chamada de a “Fábrica Grande” (no passado Mauá tinha grande tradição em louças), e desde 1919, já tinham um time de futebol rivalizando com o Pilar FC:
O primeiro jogo de futebol do Industrial foi frente ao Pilar FC, uma vitória de 3 x 0 para a festa na Fábrica Grande, já que o Pilar era considerado o grande time da cidade. O Ademir Medici escreveu um lindo livro sobre o time:
Nos anos 30, o AA Industrial passou a disputar a LEMS (Liga Esportiva Municipal Sambernardense). Aqui, o time de 1934, que bateu o Corinthians de Santo André (campeão naquele ano) por 2×1 e empatou com o Primeiro de Maio por 1×1. O time seria sempre uma pedra no caminho do Galo da Vila Alzira, vencendo também em 1935, por 1×0.:
Depois, o time migra pra Liga de Santo André e no dia 20 de julho de 1941 visita o Ribeirão Pires FC e perde por 2×0, jogando com Kafunga, Afonso e Santana; Cará, Élio e Constantino; Alfredo, Antonio Santos, Osvaldinho, Artemio e Valdir.
Em 1943, o time disputou o Campeonato do Interior pela Federação Paulista, num grupo mais que difícil, onde o Corinthians de Santo André se classificou para a fase seguinte:
Nessa época o Industrial não tinha campo e costumava jogar apenas como visitante, e em alguns momentos utilizando o Estádio Américo Guazzelli emprestado do Corinthians.
Em 1950, o A.A. Industrial seria campeão da Divisão Principal da Liga Santoandreense de Futebol, de forma invicta, com o time abaixo:
Depois viria o tricampeonato da Liga de Santo André em 1955, 1956 e 1957.
Em 1958, nasce a Liga de Mauá e o AA Industrial passa a disputá-la e torna-se o primeiro campeão da Liga.
O time seguiu montando bons esquadrões para disputar os campeonatos no ABC, como esse time de 69:
Em 17 de abril de 1945, nasce um outro time na cidade: o Independente FC, pra apimentar ainda mais a rivalidade que antes ficava entre o Pilar FC e o AA Industrial.
Seu campo fica no Jardim Independência.
Seu primeiro grande título no futebol foi em 1946: Campeão da Segunda Divisão de Santo André.
E em 1950, veio o título de Campeão da Primeira Divisão da Liga de Santo André.
O Independente FC foi também campeão do centenário de 1953:
E essa foto recolorida no começo dos anos 60? Linda não?
Outros times como estes fizeram com que a Liga de Mauá fosse aos poucos se fortalecendo e sendo mais um motivo de orgulho da cidade!
Faltava só a presença de Mauá no profissionalismo, mas os dois times que vimos acima (Independente FC e o AA Industrial) não toparam se profissionalizar.
A oportunidade surgiu em 1981, quando o Presidente da Federação Paulista de Futebol (Nabi Abi Chedid) esteve na cidade para a premiação dos Campeões da Liga Mauaense e na empolgação da festa sugeriu que se criasse um time para jogar a série A3 do Campeonato Paulista, dizendo que se precisasse da Federação, ele ajudaria.
Assim, nasceu o Grêmio Esportivo Mauaense…
A data de 15 de dezembro de 1981 na verdade se deve a uma parceria com o Escolinha FC, um time que já existia na cidade e fez uma parceria com o Grêmio para que pudesse agilizar sua inscrição junto à Federação.
Nesse momento histórico da fundação do Grêmio Mauaense surge mais um cara que merece ser homenageado por este post: o Marrom (de vermelho na foto abaixo)!
Fizemos essa foto com ele na época em que os já falecidos Bellotti e Wilson Cricca, juntamente do Ale Bachega (o primeiro da esquerda, ao lado do Marrom) e eu (com a camisa do Santo André) passamos a entrevistar os jogadores do Santo André em busca de histórias!
Ele esteve presente desde o momento do convite para disputar o profisional e participou da montagem do primeiro time (quase que na totalidade com jogadores da várzea). O primeiro desafio foi representar a cidade de Mauá na Copa João Ramalho de 1981, de onde saíram com o vice campeonato.
A estreia do time oficial foi em um amistoso em 31 de janeiro de 1982, numa derrota de 3×0 para o Suzano Futebol Clube (atual União Suzano Atlético Clube).
Ainda não existia o Estádio Municipal, então a casa do Grêmio Mauaense foi o antigo campo do EC Cerâmica, e pra quem quer saber como era (já que atualmente o Poupatempo Mauá em seu lugar) e Daniel Alcarria nos enviou algumas fotos:
O Campo do Cerâmica serviu de casa para vários times amadores da cidade. Essa foto é do Clube Esportivo União na final de 1981, Marrom, o último a direita, viria a fazer história no futebol local.
O Estádio era conhecido por ter dimensões pequenas (precisou de uma mini reforma para receber a 3a divisão). Aqui, a final do Campeonato da Liga de 1980, com os jogadores do GE Jardim Anchieta comemorando o gol do título.
Dá pra ver que o campo ficava bem encostado na rua, mas mesmo assim, havia espaço para uma arquibancada na lateral, que vivia cheia… Olha aí a Seleção de Mauá campeã da Copa João Ramalho de 1983.
Olha que linda defesa foi fotografada nesse modesto, mas inesquecível estádio!
Assim, o Grêmio Mauaense disputou a série A3 de 1982 a 1984 no Estádio do EC Cerâmica.
O formato do Campeonato era super confuso, agradeço ao Rodolfo Stella pela ajuda na compreensão!
Aí o time daquela época:
Em 1983 disputou mais uma vez a A3 e dessa vez uma fórmula bem louca com 4 turnos envolvendo os mesmos times… Marrom foi técnico e jogador neste ano, e ainda pode ajudar o time trazendo alguns atletas do Santo André pra reforçar o time.
O time que jogou foi esse:
E de 84, existem lindos registros que nos foram passados pelo Daniel Alcarria, do jogo Mauaense x Capivariano 1984. Em 84, o Marrom disputou como atleta a série A3, mas ao final do campeonato passou a supervisionar o futebol no Mauaense e por algumas vezes sendo o treinador.
Essa foto também é daquela época, mas sem conseguir identificar de qual jogo…
Batemos um papo com o Marrom sobre esse momento inicial do Grêmio e ele citou um momento especial: o jogo de estreia do Estádio Municipal “Pedro Benedetti“, em 8 de dezembro de 1984.
O Grêmio Mauaense fez uma partidaça contra o São Paulo Futebol Clube, e ainda que o placar tenha terminado 2×1 pra o tricolor paulista, o Grêmio deixou claro que seria um time duro de bater, em Mauá. Esse jogo detém o recorde de público do Estádio: mais de 15 mil torcedores.
É lindo ver o Estádio Pedro Benedetti lotado!
O Estádio Municipal Pedro Benedetti possui capacidade para 10.590 torcedo e seu nome homenageia o futebolista Pedro Benedetti que jogou no Independente Futebol Clube, Associação Atlética Industrial, Cerâmica Futebol Clube, entre outros times de Mauá.
Olha a imagem do projeto que o Daniel Alcarria enviou pra gente:
E a inauguração do Estádio parece ter dado sorte… Em 1985, chegou o grande momento do time. Após uma primeira fase com apenas uma derrota, o time classificou-se para as finais.
A segunda fase foi um quadrangular com o Paulista de Suzano, Jabaquara de Santos e o Jacareí, e o mais uma vez o time sofreu apenas uma derrota contra o Jabaquara, em Santos!
Veio então um triangular envolvendo a Esportiva de São João da Boa Vista e o Serra Negra EC, e o Mauaense passou invicto!
O grande momento chegou: a final do campeonato contra a equipe do Mirassol e uma vitória em Mauá e um empate em Mirassol garantiram o título e o acesso à série A2.
Olha aí o time campeão:
Assim, em 1986 disputou a série A2 e embora tenha ido muito bem na primeira fase, acabou em último do seu grupo da segunda fase…
Já em 1987, o time não passou da primeira fase, terminando em oitavo lugar…
Assim, o time voltou à série A3, campeonato que disputou de 1988 a 1991. Em 1987, conquistou o título da Copa Diário do Grande ABC.
Em 1992, o time se licenciou, retornando em 1993 na Quarta Divisão (a atual série B / Segunda Divisão). Esse é o time de 1993:
Aqui o time de 1994:
Em 1996, o Grêmio Mauaense foi Vice Campeão Paulista da Antiga Série B1.
Outro time dos anos 90:
Em 2003, o Mauaense conquistou seu último título, da B1.
E assim, desde 2008, o Mauaense disputa a 4ª Divisão, mais conhecida como Paulista da Série B. E pra quem pensou “O Marrom deve ter ficado feliz com o Grêmio Mauaense ter seguido na ativa”, olha ele aí na comissão do time de 2016:
As arquibancadas nunca mais tiveram sua lotação como nos primeiros anos, mas… a torcida segue viva!
Aqui, o time de 2019:
Mas, o futebol é mesmo uma caixinha de surpresas e quando menos se esperava, eis que surge um novo time em Mauá para disputar o profissional e assim, utilizar o Estádio Municipal Pedro Benedetti, trata-se do Mauá FC.
O Mauá Futebol Clube foi fundado em 23 de outubro de 2017 e estreiou na Segunda Divisão do Campeonato Paulista (a série B) em 2018. Aliás estivemos presente em um jogo deles contra a AA Itararé, pra conhecer de perto o novo time do ABC (veja aqui como foi).
Logo no seu primeiro campeonato, conseguiu se classificar para a segunda fase, ficando entre os 16 melhores clubes do estado na divisão disputada e ainda ganhou os dois clássicos contra o Grêmio Mauaense. Será que nasce um novo rival?
Atualmente, quem está por lá cuidando do futebol é…. O Marrom!
Pra fechar, vale lembrar que a Liga Mauaense de Futebol Amador seguiu evoluindo e se tornou a maior do estado de São Paulo com mais de 320 times filiados, 900 partidas por ano com um público total de aproximadamente 50 mil torcedores por ano, é mole?
Mauá é hoje uma baita cidade, e uma das mais apaixonadas por futebol do Brasil. Além disso tem melhorado dia após dia. É muito mais do que você imagina…
Em meio a essa quarentena, como não podemos viajar e registrar estádios, temos dedicado nosso tempo a ler e pesquisar mais sobre o futebol. Temos feito uma série de posts sobre os estádios do ABC, e sempre que possível intercalando com livros que ajudam a conhecer a história dos times.
O post de hoje é pra falar do livro “Clube Atlético Linense – O Elefante da Noroeste”, uma obra de Wanderley Frare Junior, que ficou 4 anos pesquisando, escrevendo, colhendo fotos, entrevistas e curiosidades sobre o time de Lins, cidade no interior de São Paulo que é apaixonada pelo clube.
Nós já falamos bem superficialmente sobre a história do time (veja aqui) e também chegamos a ver algumas partidas (veja aqui o jogo entre PAEC x Linense e aqui sobre um Santo André x Linense com portões fechados). Também já desafiamos a estrada e fomos até Lins para conhecer pessoalmente o Estádio do Linense – clique e veja, mas o trabalho do Wanderley vai muito além…
O autor também é apaixonado pelo clube, tanto que já foi ver jogos em muitas cidades na grande São Paulo, interior do estado e até a capitais distantes. Tudo pelo clube.
O livro foi lançado em 2015, durante o Campeonato Paulista daquele ano e tem 572 páginas coloridas, em papel de ótima qualidade, capa dura e sobrecapa.
O livro custa normalmente R$ 150,00, mas agora em JUNHO, mês de aniversário do Linense (completa 83 anos no próximo dia 12), o livro está numa promoção incrível, saindo pelo valor de R$ 100,00, incluindo as despesas de envio para qualquer lugar do Brasil.
O contato com o autor pode ser feito pelo whatsapp no número (11) 99905-3784.
Aproveite, pois essa oferta é válida apenas até o dia 30 de junho de 2020. NÃO PERCA!!!
O post de hoje é em homenagem ao Ademir Medici, outro apaixonado pela história do Grande ABC que além de escrever uma coluna sobre a memória da região no Diário do Grande ABC, ainda editou vários livros sobre os principais clubes da região, entre eles, o São Caetano Esporte Clube. O livro “Uma história de campeões” foi a principal fonte utilizada hoje.
Outra fonte importante para esse trabalho foi o livro “Os esquecidos“, realizado pelo DataToro / RedBull, com pesquisas de Antonio Ielo, Fernando Martinez, Júlio Diogo e Marcio Javaroni e editado pelo Rodolfo Kussarev.
O São Caetano Esporte Clube nasceu em 1º de Maio de 1914, da fusão do Rio Branco (que alguns dizem EC, enquanto outros FC) e do Clube dos Amigos. Nos seus primeiros anos, participou de vários campeonatos locais e amistosos, inclusive fazendo algumas viagens pra jogar de visitante.
Não encontrei registros fotográficos do primeiro campo do São Caetano EC, mas ele ficava em uma área da família Roveri, antes usada pelo Clube dos Amigos, onde a Fábrica de Louças Adelina se instalaria. O campo não oferecia condições de disputar jogos oficiais e por isso, era comum jogar em campos emprestados. Aqui, algumas imagens da fábrica:
O segundo campo (também não encontrei nenhuma foto, até porque estamos falando das primeiras décadas do século XX) ficava na rua Heloísca Pamplona, e foi usado até 1920, quando o local passou a abrigar o Grupo Escolar Senador Fláquer.
O terceiro campo, conhecido como “O Estádio da Rua 28 de Julho” marcou época.
Possuia arquibancadas em madeira, inclusive uma pequena parte coberta. Ficava no terreno de uma firma de montagem de pontes, e o São Caetano EC pode mandar seus jogos ali por um bom tempo, até que no início dos anos 30, as Indústrias Matarazzo requereram o terreno.
As arquibancadas em madeira, com uma área central coberta e todo cercado, o que dava um charme único! Aqui uma outra foto, também do livro do Ademir Medici!
Aqui dá pra se ter ideia de como era o outro lado do estádio:
Em 1919, o time passa a disputar o Campeonato Municipal organizado pela APSA, que equivale à série A3 do Paulista atualmente.
Jogaria a A3 também em 1920, 1922 (quando chegou à segunda eliminatória, perdendo para a AA Ordem e Progresso), 1923 (também foi até a segunda eliminatória, desta vez perdendo para a AA Estrela de Ouro), 1924 e 1925. Esse, o time de 1926, que só jogou amistosos e torneios locais:
Em 1927, disputa pela primeira vez o Campeonato Paulista do Interior, pela APEA.
Em 1928, por falta de condições de seu estádio, mandou seus jogos pelo Campeonato do Interior em Santo André (no campo do Primeiro de Maio FC) e em São Paulo (no campo do Silex e do Ipiranga), mas isso não impediu o São Caetano Esporte Clube de se tornar Campeão do Interior!
Com o título do Interior de 1928, em 1929 o São Caetano Esporte Clube volta a disputar a série A3 do Campeonato Paulista pela APEA (nessa época, chamada de 2a divisão, ficando abaixo da primeira e da especial).
O Estádio da Rua 28 de Julho passa por uma reforma para poder receber os jogos desta competição e logo de cara, o São Caetano Esporte Clube conquista o vice campeonato.
O campeão de 1929 seria a AA Ordem e Progresso (que havia sido campeão da Divisão Municipal da APEA em 1928).
Olha o time deles, em 1935:
Mas, em 1930 chega a hora da celebração maior! O São Caetano Esporte Clube se torna campeão da série A3 e assim passa a disputar a A2!
O time sofreu uma única derrota no campeonato!
Em 1931, disputou a série A2 e por 3 pontos não saiu campeão.
A partir de 1932, o time passou a adotar o seu distintivo, já que até então, era apenas um uniforme preto e branco.
A série A2 de 1932 foi mais enxuta e perdeu um pouco da força porque a APEA criou dois novos Campeonatos: o do Interior – Divisão Campineira (onde o Guarani foi campeão) e o do Interior – Divisão Santista (a Briosa levou o título). Foram apenas 7 jogos e uma campanha apenas regular.
Em 1933, surge a Federação Paulista de Futebol e com ela, o profissionalismo começa a surgir no futebol paulista.
O São Caetano EC segue no campeonato da APEA, na série A2, que ese ano era dividido em 2 grupos, onde os melhores de cada um fariam a final.
Jogando no grupo “Série 1”, termina empatado em primeiro lugar com o time das Fábricas Orion, mas perde a partida de desempate e assim fica de fora da final.
O Fábricas Orion foi pra final e levantou o título de campeão.
É o time desta fábrica:
Que embora tenha se mudado de endereço, segue dando nome ao prédio, agora abandonado, na esquina das ruas Joaquim Carlos e Behring, no bairro do Belenzinho…
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Orion acolheu muitos imigrantes alemães de origem judaica, que fugiram da Europa por causa de perseguições.
O São Caetano EC ainda disputou vários amistosos nesse ano, dos quais dois merecem destaque: um contra o Primeiro de Maio que terminou em pancadaria (a ponto dos times combinarem não realizar o jogo de volta) e outro contra a Portuguesa, da qual se tem esse registro (a Lusa venceu por 3×2):
Chegamos a 1934, e agora haviam 2 campeonatos, um pela APEA e outro pela Federação Paulista (do qual o CA Fiorentino – que nada mais era do que o Juventus, que se lincenciou das demais competições, momentaneamente- saiu campeão da série A1).
O São Caetano EC fez uma boa campanha e terminou em 3olugar (de novo a AA Ordem e Progresso levou).
Naquele ano, o time disputou um amistoso com o Palestra Itália, no Estádio da rua 28 de julho. Esse foi o time daquele jogo:
Em 1935 é um momento especial para o São Caetano EC: o clube adquire um terreno entre as ruas Paraíba e Major Carlo Del Prete, uma vez que a área do Estadio da Rua 28 de Julho é requerida pelas indústrias Matarazzo. Como o clube não tinha recursos, foi necessário muitas ações e parcerias para a realização desse sonho. Mas estava lançada a pedra fundamental do que seria o “Estádio da Rua Paraíba“.
A outra boa notícia é o convite feito pela APEA para que o São Caetano EC dispute a sua série A1 de 1935. O time termina em 4olugar e ainda vence a Taça Bellard contra outros times da região.
A despedida do velho Estádio da Rua 28 de Julho se faz na partida contra a AA Ordem e Progresso, na primeira rodada do campeonato ( o time joga de visitante praticamente todos os jogos).
Em 1936, dois campeonatos paulistas são disputados: um pela LPF (Liga Paulista de Futebol), do qual o Palmeiras (Palestra Itália, então) sagra-se campeão, jogando contra as equipes mais fortes do estado, como Corinthians, São Paulo, Santos, Juventus entre outros times. O São Caetano EC segue fiel à APEA, que começa a apresentar sinais de decadência e melhora sua performance, alcançando o 3olugar.
O destaque fica para a goleada de 6×1 contra o Ordem e Progresso (até eu já peguei birra desse time de tanto jogo contra ele kkkkk) e para o “derby regional” com o Primeiro de Maio, tendo o São Caetano EC vencido as duas partidas.
Esse foi o time de 1936, que teve que jogar quase todos os jogos como visitantes, uma vez que o Estádio da Rua Paraíba não foi finalizado.
Chegamos a 1937 com uma grande notícia: o Estádio da Rua Paraíba finalmente está pronto, e recebe o nome de Estádio Conde Francisco Matarazzo, sendo inaugurado em 1/5/1937.
Essa é uma foto do dia da inauguração, que contou com um grande festival que teve como ponto principal um jogo entre o São Caetano EC e um selecionado da APEA (4×1 para os donos da casa):
A entrada principal era na Rua Paraíba, onde ficavam as bilheterias além de um escritório para controle das carterinhas dos sócios.
Ao lado esquerdo (onde ficava um dos gols), estava a Rua Margarido Pires (a atual Av Goiás), à direita, a indústria Brasiltex e logo adiante a Rua Baraldi.
Aqui outra foto do livro do Ademir Medici, percebe a distância da torcida ao campo (sim, era só essa singela cerca branca que separava a torcida dos jogadores). Esta arquibancada coberta tinha capacidade para 600 torcedores. Ela dava costas à Rua Major Carlo Del Prete, embaixo delas ficavam os vestiários. Pro lado de trás, havia um portão maior para a entrada dos carros e ônibus dos times visitantes.
Outros dois jogos, nas duas semanas seguintes fizeram parte das festividades de inauguração do novo estádio: uma derrota de 1×0 para o Ipiranga e outra por 3×1 para a Portuguesa.
O São Caetano EC toma outra decisão importante neste ano: afastar-se da APEA e inscrever-se na Liga Paulista de Futebol (que se tornaria a atual Federação Paulista), mas termina 1937 sem disputar nenhum campeonato, assim como 1938, mas rolam festivais e até um campeonato só com times de São Caetano.
Em 1939, a agora “Liga de Futebol do Estado de São Paulo (LFESP)” decide convidar o São Caetano EC a disputar a Divisão Intermediária, equivalente à série A2 do Paulista.
E esse campeonato foi especial para o Grande ABC: 5 times da região participaram: São Caetano EC, Primeiro de Maio, EC São Bernardo, Cerâmica e Corinthians de Santo André) e 4 terminaram nas primeiras posições, tendo o Corinthians de Santo André como campeão!
Aqui, o goleiro Ettore Manilli em ação:
Chega 1940, e vem a grande conquista da Divisão Intermediária – a série A2 da época!
Inacreditavelmente, o time campeão de 1940 não disputa nenhum campeonato em 1941, nem 42 ou 43… Apenas amistosos.
Em 1944, disputou o Campeonato do Interior, mas acabou eliminado pelo Taubaté, em 45 e 46 não passou da fase regional de grupo (quem se classificou em ambas foi o vizinho CA Rhodia, de Santo André) e em 47 também saiu na segunda fase. Esse é o time de 1945:
Em 1948, uma grande novidade: a disputa do campeonato paulista da Segunda Divisão (a série A2) profissional. Joga a série vermelha e termina empatado em número de pontos com o Rio Pardo. Era só empatar o último jogo contra o Ginásio Pinhalense numa partida cheia de histórias….
Como apenas um time iria pra fase final, houve uma partida para desempatar e o Rio Pardo FC venceu, em campo neutro, em Limeira, por 5×3. O São Caetano EC jogou com Zinho; Mosca e Neno; Sérgio, Ninim e Escovinha; Suli, Iube, Andó, Wilson e Enzo. Técnico: Francisco Marinotti.
Em 1949, uma participação mediana, em sétimo lugar.
Duas fotos do time frente ao estádio neste ano:
Em 1950, sagrou-se campeão da sua regional, mas acabou desclassificadoo da segunda fase.
A foto do time campeão da sua série.
Em 1951, mais uma campanha mediana na Segunda Divisão – a série A2 da época- não se classificando para a parte final da competição, o vizinho Corinthians de Santo André classificou-se em primeiro lugar (no jogo em Santo André, deu São Caetano EC 2×1 contra o Galo da Vila Alzira, em 22/7/51):
Em 1952, é anunciado a construção de um novo estádio que servirá não apenas ao time mas à cidade. Analisando a distância eu me pergunto se realmente era necessário, visto que o Estádio Conde Francisco Matarazzo parecia dar conta do recado, mas alguns depoimentos da época dizem que o estádio já era pequeno para as grandes partidas (além de disputar a A2, foi comum a presença de Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Santos e Portuguesa disputando amistosos para casa cheia) e a própria Federação vinha reclamando das acomodações modestas.
O time que entra em campo para a A2 de 1952 é formado por novos rostos, convidados junto à várzea local, o que fez com que o início do campeonato fosse irregular, mas em determinado momento, parece que finalmente deu liga, como se pode notar nos resultados.
Como houve empate entre o São Caetano EC e o Taubaté foi marcado uma partida em local neutro (a Rua Javari) na qual o time do ABC bateu o burro da central por 4×2, com 3 gols do ponteiro Rino.
Infelizmente no chamado “Torneio dos finalistas”, o time perdeu a classificação para o CA Linense, que saiu campeão em cima da Ferroviária.
Time do CA Linense, campeão e que disputaria a série A1 de 1953:
Nessa época, independente da campanha do ano anterior, existia sempre uma expectativa para saber se o time seria convidado para a disputa da segundona e foi com muita alegria que o São Caetano EC confirmou presença em mais um campeonato, ao lado do vizinho Corinthians de Santo André.
Pra se ter ideia do tamanho do interesse, em 1953 é criada a Terceira Divisão (equivalente à A3 atual).
Aqui, o time de 1953:
Mais uma vez, os times são divididos em grupos e a campanha do São Caetano EC é apenas regular:
O ano de 1954 se inicia com as primeiras obras do que ser ia o novo estádio da cidade. Mas o que mexeria com as estruturas do futebol na cidade foi a fusão entre o São Caetano EC e o Comercial FC de São Paulo (que jogava a primeira divisão).
Dessa maneira surge a Associação Atlética São Bento, cujo nome e uniforme eram homenagens ao São Bento, clube paulistano campeão estadual em 1914 e 1925).
Como o Comercial já disputava a primeira divisão, a AA São Bento nasce na A1 de 1954!
Mas, contrariando as expectativas, faz uma campanha bem mediana, correndo até risco de rebaixamento…
Com o time disputando a principal divisão do estado (a série A1), o prefeito Anacleto Campanella se vê na obrigação de agilizar as obras do novo estádio.
Assim, 1955 se inicia de uma forma muito festiva: no dia 2 de janeiro, em um jogo válido ainda pelo campeonato de 1954 (veja na tabela acima) a AA São Bento inaugura o Estádio Anacleto Campanella, vencendo o XV de Piracicaba, por 1×0.
Pra quem nunca foi ao Anacleto, vale lembrar que ele fica num das partes mais elevadas da cidade e ná época não haviam arquibancadas ao seu redor como um todo, por isso, sofria uma grande ação dos ventos e isso rendeu ao estádio o apelido de “O Estádio do Morro dos Ventos Uivantes“.
Em 13 de janeiro, realiza-se uma partida celebrativa para a inauguração do Estádio Anacleto Campanella e o Corinthians é convidado como adversário e vence por 3×2.
E as arquibancadas se entopem de torcedores…
O time disputa toda a série A1 no Estádio Anacleto Campanella, mas nem a fusão nem o novo estádio servem de estímulo para uma campanha considerável no Paulistão de 1955…
O torcedor vê a AA São Bento terminar num modesto 11º lugar…
Os maus resultados estimulam as discussões sobre a real efetividade da fusão entre o São Caetano EC e o Comercial FC e a parceira chega em 1956 bastante questionada. Esse foi o time:
O campeonato de 1956 teve uma regra bem diferente, a primeira fase era um “torneio de classificação, onde todos jogavam contra todos num turno único.
Desse “torneio” o campeonato se dividiu em duas séries: azul (os 10 primeiros colocados) e branco (os 8 demais), sendo que só o azul disputaria o título. A AA São Bento conseguiu se classificar para a série azul, terminando o tal torneio em 6º lugar…
A torcida até que fez o seu papel, olha quanta gente ia apoiar…
Porém, frente aos times mais fortes, os resultados não vieram…
Dessa forma, a AA São Bento terminou a série azul em 1956, em último lugar…
Mesmo tendo se classificado para essa “série azul”, o fim do campeonato de 1956 gerou ainda mais barulho, principalmente entre os torcedores de São Caetano. Imagina a pressão na cabeça dos dirigentes, que tinham certeza que a fusão criaria um novo “time grande” para o estado. Dessa forma, o campeonato de 1957 se inicia com os nervos a flor da pele.
Mais uma vez tivemos o “Torneio de Classificação”, para dividir os times em dois grupos.
E pra piorar as condições, o time não consegue se classificar na série azul…
A AA São Bento acabou disputando a série branca, que não concorria ao título do Campeonato Paulista, apenas esse título “simbólico” da série branca, que sequer foi conquistado… O time acabou no 3º lugar…
Os resultados decepcionantes fizeram com que o projeto da fusão fosse ao chão… Dia 18 de dezembro de 1957, o conselho do clube se reúne e oficializa o fim da AA São Bento.
O São Caetano EC e o Comercial FC estão de volta, o time do ABC fica com o estádio, o da capital com a maioria dos jogadores. Ambos com dívidas e desconfiança quanto ao futuro.
Pra piorar o São Caetano EC não consegue o direito de seguir jogando a série A1 do Paulista e ainda tem que fazer muito trabalho de bastidor para conseguir sua inscrição na cada vez mais disputada segundona – série A2.
O campeonato dividiu os times em 4 grupos, e o São Caetano EC ficou no Azul, mas sequer se classificou para a segunda fase. Esse é o time de 1958
Em 1959, novamente na A2 e mais uma vez, uma campanha fraca, não se classificando em seu grupo, o “João Havalange”, onde ficou em quinto lugar.
Em 1960, o São Caetano EC fecha definitivamente suas portas para o futebol profissional e passa a se dedicar apenas ao clube social. Uma pena para a cidade, principalmente pra quem vive na região central que foi quem mais se apegou ao time.
Vale destacar outro time que fez história: o Cerâmica FC, fundado em 13 de maio de 1925 por operários da “Cerâmica Privilegiada” famosa pela produção de ladrilhos, telhas e tijolos refratários. O Cerâmica chegou a disputar a Divisão Intermediária da LFESP em 1939.
Time de 1954:
Como sabemos, a cidade ainda veria surgir novos times que chegariam ao profissional, como a TransAuto, o SAAD, a AD São Caetano