O futebol em Caçapava-SP

Nesses mais de 15 anos do As Mil Camisas, poucas missões para registrar estádios falharam.
Infelizmente a cidade de Caçapava foi um destes casos, mas mesmo assim, hoje vamos recordar um pouco da linda (e antiga) história do futebol por lá.

Esta é mais uma cidade que nasceu dos conflitos entre os povos originários e bandeirantes que buscavam novas terras, pedras e minerais preciosos além de escravizar os indígenas.
Alguns destes sanguinários bandeirantes seguiram o curso do Rio Paraíba do Sul, enfrentando o povo Puris, pertencente ao tronco linguístico macro-jê, aqui, registrados no século XIX por Van de Velden:

E aqui, por Johann Moritz Rugendas, no século XIX:

Os Puris acabaram abandonando suas terras em direção da Serra da Mantiqueira, mais ou menos como o Iron Maiden canta em “Run to the Hills“, em referência à história americana:

Aos poucos, os invasores passaram a ocupar o vale do rio Paraíba originando o que seriam as cidades do leste do estado, como São José dos Campos, Jacareí, Taubaté e a querida Caçapava, cujo nome deriva do termo tupi guarani caá-sapab (algo como “mato vazio”, devido à clareira que existia no local).

Inicialmente pertencente à Taubaté, o povoado de “Cassapaba” foi crescendo ao redor da capela construída em 1706 que daria origem à Igreja de Nossa Senhora D’Ajuda.

A partir do século XIX, questões políticas levaram a população a viver na fazenda de João Dias da Cruz Guimarães, onde existia uma capela de São João Batista.
Ali, iniciou-se o núcleo que se tornou a atual cidade de Caçapava. O velho povoado tornou-se o bairro do “Caçapava Velha“.

A base da economia era a produção cafeeira realizada pelos escravizados, com fazendas importantes em Caçapava, que também produzia cana-de-açúcar, fumo e gêneros alimentícios.
Até hoje, o comércio local movimenta a economia, esse é o Mercado Municipal:

Em 1° de outubro de 1876 é inaugurada a estação ferroviária.

A ferrovia ajudou a trazer a industrialização para a cidade que passou a contar com empresas do ramo têxtil, depois chegaram a Mafersa (material ferroviário) e a Providro (que também teve um time profissional como veremos na parte final deste post).
Olha quantas indústrias existem atualmente só ali às margens da Dutra:

Assim, chegamos à Caçapava de hoje em dia que vê o desenvolvimento chegar com força total e fez no futebol mais uma vítima desse crescimento…
Estivemos na cidade pouco tempo depois da demolição do estádio da AA Caçapavensena região central.

A Associação Atlética Caçapavense foi fundada em 9 de dezembro de 1913 e tinha sede na rua Capitão João Ramos (atual agência do Banco do Brasil) mudando-se em 1941 para a Avenida Cel. Manoel Inocêncio, onde estava o Estádio Capitão José Ludgero de Siqueira até 2013 quando foi vendida e completamente demolida…

Estivemos lá alguns meses depois da demolição e já havia um estacionamento construído na esquina do terreno, onde antes ficavam as bilheterias…

Fiquei tão decepcionado que não encontrei as fotos que fiz do local… Por sorte o Google Maps ainda mantém como imagens um cenário bem parecido com o que visitamos.

O local é bem no centro da cidade e imagino que realmente não fazia mais sentido um campo, há décadas dedicado apenas ao futebol amador, ocupar um espaço tão importante…

Dá pra comparar com uma imagem mais antiga:

Após vários anos disputando amistosos e torneios amadores, em 1918, a AA Caçapavense estreia no Campeonato do Interior (organizado pela APEA), na Zona Central do Brasil.
Em 1920, se classifica para a fase final, mas perde para o Corinthians de Jundiaí.
Em 1921 venceu o Elvira e empatou com o Taubaté, em partida que teve invasão de campo pela torcida de Caçapava. Esse era o time de 1921:

A área do Estádio Capitão José Ludgero de Siqueira foi adquirida em 1915 e em junho de 1922 enfim foi inaugurado com uma incrível partida entre a AA Caçapavense e o Clube de Regatas Flamengo!

O Flamengo leva para casa a Taça Elias, ofertada por comerciantes da cidade, vencendo o Caçapevense por 5×0.

A partir de 1922, a Zona Central do Brasil passa a ser bastante disputada, com times de diversas cidades da região.

Esse é o time de 1925:

Em 1928,, a AA Caçapavense sagra-se campeã da sua região, mas acabou sendo desclassificada na fase final. A AA Caçapavense disputa o Campeonato do Interior até 1930, apenas deixando de participar das edições de 1924 e 29.
Imagina se você dissesse pra essa galera que esse lugar ia virar um estacionamento, algumas décadas depois…

Talvez tenha faltado passar esse amor pelo futebol para seus filhos, filhas, netos e netas…

Claro… O mundo hoje é outro, mas fico me perguntando como deve ter sido mágico vivenciar as aventuras da AA Caçapavense na primeira metade do século XX…

E como era linda a arquibancada coberta do Estádio Capitão José Ludgero de Siqueira:

Olha que uniforme lindo!

A AA Caçapavense volta às disputas locais até 1946, quando disputa novamente o Campeonato Paulista do Interior, agora organizada pela Federação Paulista e embora campeã da sua zona, o time foi eliminado na fase regional.

Após esta disputa única, o time mais uma vez se ausenta das competições oficiais e volta a jogar torneios amadores e regionais.

Aqui o time de 1958:

O time de 1961:

A AA Caçapavense ressurge na década de 60 para aventurar-se no profissionalismo disputando a Terceira Divisão da Federação Paulista de 1964, e o time terminou na 6a colocação da 1a série.

Em 1965, terminou a 5a colocação:

Em 1966, o time sagra-se campeão do seu grupo…

Mas acaba abandonando a 2a etapa da competição e desistindo do profissionalismo.

Atualmente, a AA Caçapavense, centenária desde 2013 possui uma nova sede no Jardim Maria Cândida, voltada aos associados.

Antes de finalizar o post, vale falar um pouco mais da empresa Providro citada anteriormente.

A empresa tinha tamanha importância na cidade e envolvimento com seus funcionários que acabou dando origem a um time de futebol em 17 de agosto de 1964: o Clube Providro. Segundo o site Futebol Nacional existiram dois distintivos:

Em 1966, o Clube Providro se aventurou no futebol da Quarta Divisão.

Só achei uma foto no Facebook dizendo ser do time, mas já nos anos 70:

APOIE O TIME DA SUA CIDADE!!!

Rolê boleiro em Buenos Aires parte 7 – All Boys!

All Boys (veja mais aqui), falarei sobre como foi meu reencontro com o querido time do Bairro Floresta! Recordando… No último post, estávamos nós, os 4 patetas, em pleno Monumental de Nuñez, visitando o estádio. Agora, havia chegado o final de semana e era hora de assistir a uma partida em La B, a segunda divisão do futebol argentino… Vamos nessa?? Nem bem chegamos e já vimos a festa feita pelos Albos! O bairro parou para o jogo! O Estádio fica no coração de Floresta, um bairro que fica há 1 hora (de ônibus) do centro de BsAs. Seu nome é Islas Malvinas e é cheio de grafites. Recentemente passou por uma ampliação ganhando mais 10 mil lugares. Assim, apresenta arquibancadas em todos os lados do campo. Olhando desse ângulo (estamos atrás do gol), do lado direito ficam as barras do time, no lado esquerdo e onde estamos os “torcedores comuns” e atrás do outro gol, o pessoal da imprensa que veio cobrir o jogo. Esse é um estádio especial, pois foi a primeira cancha argentina que conheci pessoalmente! A Mari também gosta, porque Floresta é um bairro com uma cara de interior, lembrando até Cosmópolis!  Por coincidência, encontramos os amigos da banda “Tango 14” nas bancadas! A barra “Peste blanca” além de muito barulho, também faz uma bonita festa visual, com trapos, faixas e centenas de bobinas de papel que são lançadas na entrada do time, em campo. E os torcedores locais também participam da festa com seus trapos e cantos! E mais uma vez, ficamos felizes em poder participar da história do futebol. Principalmente porque mesmo perdendo a partida por 1×0, o All Boys viria a subir para a primeira divisão. Ah, um detalhe que merece explicação a parte. Na segunda divisão argentina, não é permitida a presença da torcida visitante. Assim, os torcedores mais malucos simplesmente ocupam (com vistas grossas de ambas diretorias) a parte que seria reservada à imprensa. Assim, essa galera ali atrás do gol não é jornalista, nem nada, mas torcedores do Belgrano. Como quase todas as torcidas fazem isso, geralmente não ocorrem maiores problemas de violência com essa galera. Aliás, mesmo com a derrota, a festa imperou pelo estádio naquela tarde de fevereiro. Até os metaleiros do bairro compareceram! Ah, como pode um jogo ser tão importante? O futebol une o bairro, a família… Mesmo que em campo o jogo seja pegado! Uma partida dessa oferece momentos eternamente guardados em nossas memórias. Mais do que ataques e defesas… E quanta gente, hein?… Já estávamos no fim de nossa temporada argentina, e no intervalo até sentamos um pouco pra descansar… Ao fundo, uma singela homenagem da torcida a Pato Sgarra, torcedor símbolo do time, que faleceu em fevereiro de 2009. Falando um pouco sobre o jogo, o All Boys esteve numa tarde inspirada, mas com más finalizações. Foram várias chances perdidas. E pra quem acha que é fácil jogar como visitante nos estádios portenhos… Outra coisa que me agrada é estar ali próximo ao goleiro e ídolo Nicolas! O cara é gente boa e lembra aqueles jogadores antigos. O jogo foi chegando ao fim e certa tristeza nos bateu. Eram os últimos dias em Buenos Aires e mais do que isso, muitos dias, semanas, meses até voltarmos a Floresta… Mas, como diria o poeta… Yo volverei a las calles… Sei que mi barrio esperará…

Apoie o time da sua cidade!

Apoie o time do seu bairro!

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